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12 de abril de 2014

REVOLUÇÃO DE 1924: UMA SESSÃO DIDÁTICA



Nei Duclós

A apresentação do filme São Paulo Cidade Aberta, de Caio Plessmann de Castro (foto),  ontem , dia 11/04/2014, no Plenarinho da Assembleia Legislativa em Florianópolis, foi um evento significativo, pois colocou na roda um trabalho de pesquisa e síntese sobre um dos mais obscuros e controvertidos episódios da História do Brasil.O bombardeio brutal e sistemático da cidade de São Paulo em julho de 1924, feito pelas tropas do governo contra a cidade tomada pelos revoltosos do Exército e da Força Pública, e que atingiu bairros populares e de classe média, destruindo alvos civis como estabelecimentos comerciais e industriais, além de hospitais e de instituições republicanas (deixando livre os alvos militares) foi regastado com rigor didático, narrado pelo tom preciso e competente de Oton Bastos. As reconstituições de cenas fundamentais foram feitas nos locais de origem. As interpretações dos protagonistas do evento, tanto os militares quanto os civis,  mantém a sobriedade e o drama do evento, emocionando por atingir o alvo, o de esclarecer sobre um assunto desconhecido pela maioria da população.

Como sou um estudioso do período e já publiquei vários textos sobre 1924 e os movimentos militares dos anos 20, fui convidado pelo cineasta e pelo responsável da vinda dele para cá, o amigo Fabiao Deitos, que me foi apresentado pelo poeta Sidnei Schneider. Observei no debate que o enfoque adotado, o de atribuir culpa principal da destruição da cidade à oligarquia cafeeira ajuda, por um lado, a esclarecer o assunto, e por outro lança uma sombra sobre a natureza do documentário, que em principio deveria ser isento. Mas trata-se de uma obra engajada, o que não compromete seu rigor audiovisual a serviço da História. Em vez de heroísmo, temos no filme o tom denso e dramático. Em vez de luto, temos a clareza dos detalhes apresentados por excelente levantamento de imagens e filmes do período.  

Eis uma obra que inaugura um espaço generoso de resgate e debates, pois a questão militar, a intervenção armada, as propostas para soluções políticas fazem parte do vasto espectro deste evento. Observei que 1924 se presta a inúmeras abordagens. Uma delas está no meu texto sobre o papel da igreja no movimento armado. Outra na ficção, já que meu romance Universo Baldio traz o clima da revolta na segunda parte do Livro, Papel de Bala. E há a investigação necessária sobre os motivos do esquecimento desse brutal acontecimento, que ainda está presente na memória popular, como pude constatar em algumas entrevistas que fiz na Mooca nos anos 1980.

Depois da sessão, fui convidado por Caio, Fabiano e sua esposa, para uma rodada de cerveja Original com kibe na Kibelãndia, onde, ermo de conversas, já que vivo isolado, tonteei os convivas com inúmeras histórias da minha longevidade. Costumo dizer que depois dos 60 anos viramos todos conferencistas. Me convidaram, tiveram que aturar. E ainda me levaram em casa, onde Caio detalhou o convívio do seu trabalho com os posts do meu blog sobre 1924. Muita gentileza para com o escriba veterano, que assim faz novos amigos entre as raras pessoas civilizadas e criativas deste país imerso na barbárie.