Nei Duclós
Tentei, mas foi em vão.
Eras de outra solidão.
Montamos acampamento
nas nuvens e depois desativamos. Choveu.
Tua ausência é como um
final de tarde.
O domingo me protege,
com sua capa neutra de dia santo. Tudo é empurrado para o dia seguinte, danação
das segundas-feiras.
De repente o teu frio
chegou de viagem. Perguntou pelas lãs e o fogo e pediu abrigo. Mas só havia a
ressaca de um verão perdido.
Alguém bate na porta.
Levo um susto e vou ver. É o vento. Sente frio de si mesmo
Nos convencem a
desistir. Quando concordamos, um olhar de surpresa começa tudo de novo.
Fechei-me para balanço.
Só tu, amor sem esperança, poderá mudar o que não tem mais jeito.
Viajo pelo tempo, para cidades que moram onde não
mais estamos.
Voltaste, sol no
outono. Deste fim à trégua para que eu sobrevivesse.
Amanheci contigo diante
dos pássaros. Éramos dois silêncios em doses de encantamento.
Arrastar a asa
prejudica o voo. Solte-se, me capture à toa.
Só dentro de mim te
identifico. Fora, deixa solto o enigma. Que não achem teu calor que me abriga.
O amor ensina o
convívio. Apaga as cicatrizes, lava as feridas. Retorna o tempo perdido, compõe
o que chamamos vida.
Te misturas às plantas
como as asas de seres sagrados. Terna imagem de uma vocação de arte.
És música, perfil de fé
maior. Beleza que aprofunda o som que escuto ao te ver.
Quando fica tarde
demais, amanhece. A flor vem depois do temporal.
Sentiu saudade? Eu
esperei. Me fizeste provar uma eternidade.
Deus fez o homem e
depois achou que podia fazer melhor.
Sou de outro planeta.
Este mesmo. De onde vim e para onde me perco.
Começo cedo, depois
encerro. Mas fica o aceno que não me deste.
Abrigo tuas asas, amor
sem pouso fixo.
O corpo adivinha as
curvas, por isso o assédio de rua é tão ridículo. Olhar escancarado é puro
desconhecimento. Fechamos os olhos para sentir a brisa
Não sei mais o que é
dor, o que é esperança. Talvez esquecer seja só o começo.
A beleza não se sustenta. Alma só existe se houver
alimento.
LER
Ler é o melhor domingo.
Toda vez que te leio,
me desfolho.
Sou analfabeto em você,
mas leio seu coração.
Não leio pensamentos.
Não me alfabetizei em teus segredos.
Faço poesia no joelho.
Depois passo a limpo, no teu ouvido. Recitas tateando no escuro, a noite onde
nos pegamos.
Imagino que me escutas
e isso cria o veludo no que digo
ESPARSOS
Só quando te vi
tive noção
Não foi o decote
juro por mim
Foi o coração
tive noção
Não foi o decote
juro por mim
Foi o coração
tão intensa
e distante
feminina tsunami
falamos por poesia
coração de oceano
e distante
feminina tsunami
falamos por poesia
coração de oceano