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23 de março de 2014

CARISMA



Nei Duclós

Segue meus passos por solidariedade
à solidão que desfruto. Por mero capricho,
entre seus inúmeros compromissos.
Concede atenção a quem está só de passagem,
 envolvido com míseros assuntos, da literatura
ao clima. Como se fosse importante ler
o que ninguém precisa. Mas saber-te vizinha
ao sono que compartilho nesta rede anímica
já me serve de consolo enquanto adivinho
a chance de usufruir teu carisma, pois sei
o quanto brilhas em remotas conferências
onde despejas sabedoria sem mexer uma linha
do rosto, levantando apenas a sobrancelha

Todos apontam teus estribilhos e cantam contigo
algo além da filosofia, o segredo de mecanismos
que incentivam os pássaros a inventar o crepúsculo
ou a curva das conchas quando viram fósseis
e são encontradas por crianças num certo domingo

Jamais chegarei perto do que compões com maestria
mas sinto que buscas em mim algo que te falta
essa vocação que eu tenho para o agarro súbito
essa firme decisão de ser impiedoso contigo
e despertar nuvens de tempestade onde há calmaria
Sou um fio de água que se deposita sem sentido
em teus musgos de rocha, montes lívidos de mel
grupos de insetos sobrevoando a vinha. e as uvas
que amassas com os pés enquanto urro, esturro
de fera cevado em gruta já sem húmus, pois tudo
foi dedicado à pintura das paredes, esses bisontes
cheios de vilania, corças sendo flechadas pela Lua


RETORNO -  Pintura na caverna de Altamira.