Nei Duclós
Faço versos porque é um serviço
básico, que tua omissão acumula
Jogas palavras no lixo, eu deixo
que sumam, a poesia tem outro
insumo, a fala incorporada à vida
Faço o papel de vagabundo, juros
de um capital extinto, o sentimento
Junto-me aos pares no subúrbio
famílias de feras celebram o fogo
ateado em minhas vestes puídas
Quem se importa se existe a indústria
potes de pensamentos, mel de gordura
e ninguém atenta na autoria, isso tudo
já existia antes, na fábrica de intestinos
que produz a solidão de caros perfumes
Faço poesia, como o jardineiro pega firme
um quintal bruto e o transforma em flor
e trilhas onde se perdem os amantes
Por isso tenho esse jeitão sem equilíbrio
de um gigante que despenca no abismo