Nei Duclós
Tocar o silêncio como um
instrumento. Afinado no diapasão do poema.
Tua inteligência me comove. Minha
emoção te desafia.
O que é humano contradiz o olhar
tolhido pela mesmice. A criatura amarga e bruta recria para navegar doçura. Há
luz na ruptura, no risco.
Use proparoxítona se quiser ser
contundente (ótima), paroxítona quando deve ser objetivo (estoque) e oxítona se
precisar ser doce (luar)
Depois de passar a vida toda
aprendendo, você esquece. Aí aprende que não há mais tempo.
Ilha chuvosa e fria, quando ficará
firme a promessa da primavera? Reprove o inverno por insuficiência meritória.
Agora a noite cai como chuva de
meteoros. A chuva pressiona até o último alento. Nossas mãos se procuram,
náufragos recentes.
Tenho para mim o que não me
pertence. Está contigo, coração ameno.
Jogo pesado porque não há outro
termo. Reparta o que desisti de ser medo.
Sermos distantes é o destino que
definiram para nossos corpos ausentes. Pule do barco, nadadora de extremos.
Inauguro a invasão da tua presença
no território neutro de um torto setembro. Floresce o que demora, tua certeza
apesar dos erros.
Deixei para depois e o depois não
veio. Escrevo agora para que haja tempo.
Repito porque esqueci alguma coisa
no tempo perdido.
O eco é um espírito, uma assombração
do teu grito.
Ganho o dia quando você curte. Carícia
escassa, mas profunda, fonte da fantasia.
Faz tempo, nem me dei conta. Os anos
se passaram, como se dizia de quem abusava da confiança.
Doce, amargo, frio, quente,
contente, triste: desvencilhar o amor do que é supérfluo para que reste o
perfil misterioso do sonho, criatura de luz intensa que expulsa a morte dos
olhos.
Fuja, gentil promessa, doce medrosa.
Fica para a próxima, quando houver surpresa mais uma vez.
RETORNO - Imagem: foto de Eliane Fogel.