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15 de setembro de 2013

SE HOUVESSE LUA



Nei Duclós

Se houvesse lua, eu lembraria. Mas foi no escuro. Quando acordei, já tinhas ido.

 Joguei fora, achando que permanecia. Mas a ausência se vinga.

Nem tudo o verso conserta. Preciso do sentimento, bálsamo da diferença.

Vieste em busca da poesia mas descobriste que só existe alguém enredado na tua teia.

Tens a natureza do vime, que perdura e toma a forma da cesta que guarda meu coração cativo.

Nada me inspira, já tenho dito antes de te vir sozinha. Formato o verso te imaginando minha.

Nunca vens diretamente. Fazes uma volta, como as andorinhas antes de mergulhar no precipício.

Tenho a palavra exata para este momento. A que desata o nó do teu vestido.

Ninguém notou o assombro de tua passagem junto ao vento. Confundiram com a brisa e era apenas o leve ondular do teu seio.
   
Vamos nos reencontrar no dia perfeito, gravado nas nuvens esparsas de uma primavera ainda tímida.

Eternidade é quando nossa consciência migra, da porção terrena para um lote do paraíso.

A linha do tempo costura e depois desfaz a biografia, para que o mistério persista.

Escrevi a profecia para desenhar o futuro, mas o tempo passa borracha no caderno de desejos.

O que significa essa mensagem que me sopraste? perguntou o médium.  Sei lá, disse o anjo. É ao portador. Depende de quem receber. Muito cômodo, disse o medium. Sopras o que não adivinhas. Sou poeta, disse o anjo.

Essa cara de quem não se importa, de deixar a morte fazer o serviço e aguardar o que vem depois, se o Nada ou um solo de Frank Sinatra.