Nei Duclós
A palavra fugiu de casa, pegou a
estrada, cruzou o mar oceano. Aportou no seu próprio sentido, imprestável por
qualquer motivo. Lá a maré recolhe suas conchas quebradas .
Sou o poema que faço, que pertence
ao Tempo, inventor de narrativas.
Quebro a pedra da palavra. Reparto o
repasto da obra. Volto para a fonte fora da paisagem. Resta a letra torta,
trilha rota no paredão concreto.
Passas lotada pelo poema. Bem feito
para quem te ama.
Estou impermeável a significados.
Pesquiso a palavra mas retenho a dúvida.Prefiro a charada, que é o segredo
jamais revelado,do que a ilusão
O amor é o desenho que fazemos da eternidade.
Cada momento é um abismo. Depois não lembro do mergulho.
Releve minha memória seletiva. Só guardo a flor debruçada no penhasco.
Aposto sempre na sorte, acordes. Preferes quando
sou trova, gigante.
Como não vejo, lembro. Assim
componho a cena que se esfuma. Presente na ilusão dos minutos.
Não temos mais o que nos dizer. Nos
resta esse olhar devotado na esperança de o amor amanhecer.
O tempo de repente puxa o freio de
mão e o dia trava, fustigado pela garoa. Nessa parada caem em cima as lembranças,
como línguas de fogo sob o céu sem rosto.
Dá um troço quando entramos na
noite. Nos eletrizamos, fartos do mundo
Quando enfim chegamos a um acordo
sobre nós mesmos, já somos outra pessoa.