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10 de maio de 2013

VOCAÇÃO DE PLUMA



Nei Duclós

Teu perfume cruzou a tarde. Deixou um rastro, o meu verso.

Flutuas, aragem. Voo à toa de nuvem. Vocação de pluma.

Quando finalmente arrranquei tua roupa descobri que desde o primeiro encontro nada tinhas.

Aliso teu cabelo e desperto ciúme do crepúsculo, que fica de fora, se exibindo.

A seda desliza na tua pele e num arabesco se deposita no piso. Levantas para fechar a janela, pois anoitece. Meu coração te segue, como um cachorrinho.

Foges da janela quando me aproximo. Trago uma escada no bolso do delírio.

Esse encaixe é tão profundo que molhamos. Borbulha o caldo primordial do poema.

Ondulas o peito de perfil, tsunami. Chegas arrebentando o cais que era meu refúgio.

Não sou eu o fogo que faz acontecer o jorro. Mas o apelo, a mágica emissão do verbo.

Abandonaste tudo para seguir o rasto do verso que te faz tremer. Procuras a fonte da tua alegria.

Não sabem que precisas apenas de sonho. Que seja uma rede, espessa de gana.

Vieste de poesia estando nua. Cerco marítimo de palavra transfigurada pelo desejo.

É um susto quando não me vês, apenas sentes. Essa palavra roçando tua perna, musa estridente.

Foi só imaginação, não aconteceu nada. A não ser que esta felicidade seja a prova de que aconteceu tudo.

Mulher não deveria comer maçã. Na primeira vez, foi expulsa do Paraíso. Na segunda, adormeceu perigosamente.

E se alguma irmã de Cinderela tivesse também o pé pequeno? O príncipe estava frito.

Sempre fomos distantes. Palavras quentes, silêncios, desconhecimentos. E de vez em quando um choro, nos intervalos dos imaginados beijos.

Joguei os versos como dados no tapete verde do tempo. A musa recolhe a sorte que lhe pertence.