Nei Duclós
Estás de tocaia no verso, mas passas ao largo do poema. És
um navio que fala por bandeiras.
Nosso amor é clandestino. Escondemos os beijos que a lua
ilumina.
Faço coleção dos corações que perdi a cada despedida.
Contigo o voo é proibido pois toda vez que tento me falta
ar.
Essas fotos não são você. Você não está na foto, mas na luz
que te projeta.
Encontrei teu esconderijo. A parte invisível do meu coração
de palha.
Fiz um ninho da solidão. Experimente, andorinha.
Teu olhar oblíquo era uma folha prestes a cair no chão do
outono irresistível.
Não preciso de ti para ficar sozinho. Faço isso por conta
própria.
Gostas da minha arte ou quando faço
arte?
São meia dúzia de palavras. Vistas de longe, parecem ser
sempre o mesmo verso. Mas são como folhas de uma árvore. Cada uma é diversa e
respira por tua pele.
Se ontem foi o dia da mentira hoje é
o da verdade? Você é bonita.
O olho lembra o que viu pela primeira vez. Depois da
infância, somos todos cegos.
Amarelinha, 5 marias, roda: o melhor das brincadeiras com
gurias era o passa, passará, em que agarrávamos a cintura de quem estava na
frente
O céu deve ser assim como o único dia do ano em que as
centenas das gurias do Horto invadiam o meu triste colégio de padres deslizando
em massa com suas blusas brancas, saias azul marinho, meias até os joelhos e um
olhar coletivo de absoluta devastação.
RETORNO – Imagem desta edição: Clark Gable e Vivien Leigh.