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7 de fevereiro de 2013

ARRIMO



Nei Duclós

Acordaste abraçada ao poema. Não pude retirá-lo para os retoques. Ficou assim mesmo.

Ficaste no jeito do convite. Tropecei sobre ti, arrimo.

Pela fresta, te espio. Adivinho teu corpo pelo brilho.

Ficaste com medo de sentir sede. Esqueces a água que nós extraimos.

Viajaste até a metade do caminho. Sou o que resta desse destino.

Fomos dormir,cada um num quarto. Noite alta coincidimos no mesmo trinco.

Amor tardio, madrugada invasiva. Quando vier o sol terás partido.

Perdi o momento em que me querias. Depois acordei de um sonho, todo suado de serpentina.

Gostas de tudo, contida. Evitas a bandeira no rosto mas fica à mostra tua cintura.

Me lês escondida para dizer que não precisa. Mas ouço teus gemidos, princesa.

No expediente proibiram a poesia. Mas no canto do edifício desamassas os rabiscos.

Poeta é o que te conquista, independente do verso. O que existe abaixo do chão que pisas, nuvem peregrina. O que prova do teu mel, espesso.

Acordei contigo em meus braços vazios.

Me visitas com tua graça compartilhada. Fecho os olhos para te tocar, orientado pelo perfume de lembranças. Fantasio contigo, próxima distante.

És meu único vício. E a solidão não é a clínica.

Me adiciona, bem vinda. E dance comigo.


RETORNO – Imagem desta edição: foto de George Hurrell.