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8 de dezembro de 2012

ÍNTIMA FORMOSURA



Nei Duclós

Tão bonita no seu vestido escolhido num impulso,
estampado em flores quase imperceptíveis,
debaixo de panos vindos do oriente longínquo,
sorrindo por acaso sem qualquer motivo
a tocar seu rosto com a sensação de seda,
num passo de sapato de lona azul zuarte
e aqueles joelhos que valorizam o conjunto
e acompanham o meu olhar de afinco
e ao mesmo tempo terno pois é impossível
não pensar em amor ao chegar de mansinho,
braços à mostra e o pudor beijando o ombro.

E ela sabe o quanto fico louco quando imagino
o desassossego de ficar junto, mesmo que seja
só esta manhã, piração do tempo, surpresa de alguém
ser tão absoluta em sua humana desenvoltura,
postura além da vida, no miolo do fazer tudo
no mundo sem sentido onde te amo mas não digo
para não estragar o clima, essa chuva que não cai
enquanto esfria a primavera encalorada e surda.

És o som de uma vida que ganhei de graça,
a tua graça, flor de íntima formosura.


RETORNO – Imagem desta edição: Audrey Hepburn.