Nei Duclós
Minha arte é o que eu tenho. Fui
treinado pelo mar, água sem freio.
Cultivei a obra como um canteiro.
Alicerce de terras, andares sem compartimentos. Florada de sonhos em concreta
amêndoa.
Você se preserva em quartos de
segredo. Faz muito bem, enquanto lá fora o vento.
O mal entendido é a palavra que
contraiu uma doença. Cure-a com transparência.
Repartimos o pão do momento. Tu, com
tua inteligência, acariciada pela beleza.
Teu talento é a glória
contemporânea. Sou pingos de chuva no teu rosto sem precedentes.
Trabalho com afinco e gero
surpresas. Beije-me, amor completo.
Não esqueça de onde viemos. Do
anônimo eco, onde não havia pose. Vamos vestir sua lição extrema.
Acordas com o poema, despertado pela
respiração do teu corpo ardente.
Fico próximo demais e acabo
machucando. Afaste o coração da labareda. Mantenha-o brando, fonte de
silêncios.
Raiva não é meu departamento. Tente
amor, onde me encontro.
Sempre tem um barco encostado no Tempo, pronto para o
embarque, nosso mantimento.
Quanto amor, parece o mar. Navegamos
nesta celebração como pássaros, peixes, ilhas e praias de um só olhar.
Recebi embrulhada a tua ausência.
Ela pulsava com algum ruído dentro. Foi algo que fiz, em outro tempo.
Recebi embrulhada a tua ausência.
Ela pulsava com algum ruído dentro. Foi algo que fiz, em outro tempo
Quietude, palavra composta de lagoa
e Lua. Silêncio, ordem interna de almas gêmeas.
Nascemos perdendo. Relaxe, flor do
sofrimento. Nos damos as mãos no dia que não acaba.
Nada levaremos, a não ser esse sabor
de vitória. Conosco, a humanidade inteira.
Um anjo impediu o desfecho. Me
devolveu o Tempo, infinito acervo. Agora estou sempre. Valha-me poema, minha casa
em compasso firme.
Quando ninguém está vendo,
compartilhas o momento. Para que não digam que sonhas sem motivo, coração de
beijos.
RETORNO – Imagem desta edição: Liz Taylor.