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2 de novembro de 2012

CONCRETA AMÊNDOA



Nei Duclós
 

Minha arte é o que eu tenho. Fui treinado pelo mar, água sem freio.

Cultivei a obra como um canteiro. Alicerce de terras, andares sem compartimentos. Florada de sonhos em concreta amêndoa.

Você se preserva em quartos de segredo. Faz muito bem, enquanto lá fora o vento.

O mal entendido é a palavra que contraiu uma doença. Cure-a com transparência.

Repartimos o pão do momento. Tu, com tua inteligência, acariciada pela beleza.

Teu talento é a glória contemporânea. Sou pingos de chuva no teu rosto sem precedentes.

Trabalho com afinco e gero surpresas. Beije-me, amor completo.

Não esqueça de onde viemos. Do anônimo eco, onde não havia pose. Vamos vestir sua lição extrema.

Acordas com o poema, despertado pela respiração do teu corpo ardente.

Fico próximo demais e acabo machucando. Afaste o coração da labareda. Mantenha-o brando, fonte de silêncios.

Raiva não é meu departamento. Tente amor, onde me encontro.

Sempre tem um barco encostado no Tempo, pronto para o embarque, nosso mantimento.

Quanto amor, parece o mar. Navegamos nesta celebração como pássaros, peixes, ilhas e praias de um só olhar.

Recebi embrulhada a tua ausência. Ela pulsava com algum ruído dentro. Foi algo que fiz, em outro tempo.

Recebi embrulhada a tua ausência. Ela pulsava com algum ruído dentro. Foi algo que fiz, em outro tempo

Quietude, palavra composta de lagoa e Lua. Silêncio, ordem interna de almas gêmeas.

Nascemos perdendo. Relaxe, flor do sofrimento. Nos damos as mãos no dia que não acaba.

Nada levaremos, a não ser esse sabor de vitória. Conosco, a humanidade inteira.

Um anjo impediu o desfecho. Me devolveu o Tempo, infinito acervo. Agora estou sempre. Valha-me poema, minha casa em compasso firme.

Quando ninguém está vendo, compartilhas o momento. Para que não digam que sonhas sem motivo, coração de beijos.


RETORNO – Imagem desta edição: Liz Taylor.