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13 de novembro de 2012

CAVERNA



Nei Duclós
 

Não uso amor, guardo no sótão
onde ficou oculto por um século
quando perguntam digo que o perdi
numa viagem de trem pelo deserto

Em tardes mortas, de mornas horas
costumo subir para auditar o estrago
quero saber do musgo acumulado
na caixa que ficou dos seus sapatos

Abro a tampa e lá está o fogo fátuo
fingindo dormir, espessa e doce gata
a bater as patas sobre os olhos sérios

Pula no teto porque assim me escapa
não deixa que a toque, amor eterno
espera que eu decida tirá-la da caverna


RETORNO – Imagem desta edição: Marilyn Monroe.