Sofri a vida toda de esquecimento
Agora lembrei: sou poeta da praça
e do vento. Obra de monumento
estátua de sal, portal do tempo
Imóvel , vejo o incêndio
que prova Deus mas não me vence
Ninguém diz o mesmo, é puro
voluntarismo, mania de querer
sem que aconteça. Inventei a lenda
dos versos que geram primavera
Estranho, sou mendigo de letras
no mercado absurdo
dos compêndios
Colecionei estrelas jogadas fora
foscas de uso, cinco marias de anjos
com elas bato calçada em ritmo tonto
trago de volta o que perdi dizendo
quando ninguém escutava e era noite
Sou trovador sem eco, muda montanha
Sobrevivo porque esqueço, assim começo
todo dia como pastor de espantos
meu rebanho são expressões de medo
que cansam da dor e viram escândalo
Quando me for, haverá conserto
o mar lembrará de todos os poemas
RETORNO – Imagem desta edição: eu em 1969, foto de Juarez Fonseca.