Nei Duclós
Deus pôs fogo no
universo, mas a música das esferas acalmou sua fúria, hoje confinada nas
estrelas que crestam os planetas.
Não é importante se entender, não
somos traduções de línguas. Somos o mistério da diferença e seus amorosos
conflitos.
Não conheço a autoria dessa
armadilha. Culpamos o destino, mas deve ser o azedume do mel escondido na
teimosia.
Vou bater na mesma tecla até
rebentar a corda. Desafino o piano para assustar teus pássaros.
Volte para que eu possa implicar
bastante. Vou fazer o balanço de inúmeros motivos.
Não gosto da tua ausência porque
acho desaforo. Vê se aparece por ordem do sentimento.
Evitas o amor porque não faz
sentido. Mais pertinente é a solidão, refém de espinhos.
Não é comigo, dizes, quando falo em
beleza. E passas para outra página. Volte, realeza
Levei um corridão. Não acreditou, a
bela. Se defendeu do assédio. Mas era apenas o perfil de uma ilusão.
Releve meus exageros. Valho só pelo
que te beijo.
Ela me ensinou o lugar exato da
maçã. Surpreendente.
Sultão chegou tarde no palácio e
levou 230 surras.
MESTRES
Tive tão bons professores, que
jamais quis deixar de ser aluno.
Aprendi a respirar, comer, andar
,ler, escrever de maneira tão didática e eficiente que cheguei a acreditar que
tinha nascido sabendo. Perdão, professore(a)s
Quando o pessoal que tirava zero em
tudo tomou o poder, acabaram com as escolas que os desmoralizavam.
Vocês são o futuro da nação, diziam
para os mais aplicados, quando éramos crianças. Acreditamos. Mas nos roubaram.
O futuro foi parar nas mãos dos mais displiscentes.
As aulas começavam depois do verão,
do carnaval, das férias grandes. Só em março, território dos ventos, da roupa
recém comprada, dos professores mais adiantados e dos colegas desconhecidos. No
primeiro dia, entrávamos com os olhos rútilos de emoção sentindo o cheiro de
livro novo.
"De pé quem está
conversando", dizia o professor do meu colégio. E os bagunceiros, que não
tinham sido identificados pelo mestre na balbúrdia, ficavam voluntariamente de
pé, de castigo. Foi o auge da nossa civilização.
RETORNO – Imagem desta edição: Ava Gardner.