Nei Duclós
tu é a palavra não dita, bonita, que pronuncio dentro, como
um corte profundo, fim de mundo, vida pelo avesso, quando começamos algo que nos
faz intensos
e não te vejo a não ser que digas o que jamais escuto e está
comigo desde aquele tempo em que fomos vistos conversando numa varanda sobre o
rio no crepúsculo
e ninguém mais conta quando dividimos o encanto mútuo de
reconhecermos o que pega trêmulo em nosso corpo ainda cheio de andares bruscos
e por isso te seduzo com certo alvoroço em tuas dobras
úmidas porque sou ungido pelo dom de um ouro que achei no acaso que sabemos
plenos de especial doçura
quero que dobres esse rosto leve para a fonte que existe no
cofre absurdo de uma ametista que por fora é chumbo e por dentro é teu coração
mais lindo que a Lua
e que não desista de me querer sempre mesmo que o dia fuja
para o deserto e formos pegos em flagrante uso de um sonho que é nosso porque
assim quisemos
só não vale chorar porque devemos estar seguros de que a
compulsão de estarmos juntos vem de um lugar desconhecido onde o mistério nasce
como a flor no limbo
RETORNO - Imagem desta edição: Natalie Wood.