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3 de junho de 2012

SOPRO DE LUZ


Nei Duclós

Que a poesia te circunde como um sopro de luz. Estarei por perto, junto com os pássaros.

Direciono teus suspiros para as velas mais altas. É lá que teu fôlego alcança, vento do Leste.

Escrevo para a memória do amor que um dia abandonei. Bate, coração, imita um navio chegando no cais.

Matei mil vezes a primavera. Deixei só o toco e jamais reguei. Mas ela renasceu e agora estende seus galhos e flores vemelhas por todo canto. Parece que não sei. Não me faço entender. Melhor assim.

Não gosto quando falam de ti como se não fosses deusa. Insuportável essa cegueira

Resista até o osso. Mas tenha certeza que uma hora dança.

Você disfarça, diz que ama só o poema. Mas sei que amas muito mais, com tua pele, tuas múltiplas pernas.

Vida amorosa é fantasia. Não dependa den inguém para sentir de verdade. Invente um país para seu coração. E capriche na chancelaria. Relações internacionais são o fundamento de tudo.

Sentadinha de joelhos levantados, olhando por cima dos ombros fazendo charme, quem te aguenta, amanhecida?

Naquela vez ficamos tão próximos que foi um susto. Depois nunca mais aparecemos. Por que somos assim, medrosos?

A palavra não precisa pesar a barra. É celofane sobre a poeira dos dias. Basta o que vivemos de conflitos. Dizer é o que flutua em nosso sonho.

É medo que nos faz perder a chance. Rejeição, desencontro. O tempo passa como cachorro entre as pernas e some no corredor do tempo.

Não imaginas o que provocas quando o suspiro suspende o ondular do teu corpo. É simples.

A diferença é tudo. Teu rosto perfeito diante do urso.

Tantas exigências. Não vou atender nenhuma. A não ser a que me pedes te fazendo de besta. Acho um encanto teu fingimento.

Você é tão fresca. Acham que me enganas com esse jeito. Mas sabemos que assim é a embocadura da pimenta.

Fico fazendo onda com poesia. O que pega é te tirar logo dos braços dessa teimosia.

Joguei fora os versos. Não te serviam mais. Inventei outros. Provas um por um fazendo muxoxo. Te decides pelo mais afoito. Eu sabia!

A Crescente varre o céu preparando a Lua cheia.


RETORNO – Imagem desta edição: Liv Tyler.