Nei Duclós
Quando piso na palha seca, lembro de ti, habitante de Vênus.
Barulho no teu terreno, outrora trigo , agora pântano maduro de desejo.
Medi a distância, teu corpo cabia em minhas mãos. Quando me
aproximei, mostrei as estatísticas.
Ao te ler, o melhor é quando mexo as folhas.
Quando todos silenciarem, escutarás meu coração batendo por
ti.
Jamais oriente o que faço, a não ser minhas mãos quando
rondam teu colo.
Nunca mais soube dela. Nem uma notícia, uma calúnia, nada.
Fiquei ermo do portento apertada naquele vestido.
O barco de mármore da Lua Nova navegou o horizonte em curva,
quase raspando nas árvores e no muro. Depois escorregou para as bordas onde
Vésper desanda. Por um tempo seu brilho era a saudade que impregnava o céu
límpido de junho.
Vamos dançar? disse o sapateiro, arrancando gargalhadas e
provocando gestos de pegar a arma dos seguranças. Vamos, disse a Imperatriz,
levantando-se com seus quilômetros de saias farfalhando de brilhantes.
Quando estiveres vazio é porque conseguiram. Não permita.
O que sentes não tem importância, disseram. Cuide da
sobrevivência. Entendi, falei. É preciso morrer para continuar vivo.
Passamos dos limites. Nos perdemos num mundo paralelo no
primeiro encontro. Amanhecemos num lugar estranho, o amor infinito.
Não digo isso para te agradar. Digo porque não posso mentir
por medo de te perder.
Aguardo uma chamada, ele disse. Leve o celular! gritaram.
Meu amor é fixo, ele falou.
Fiquei com saudade, ela disse. É interminável esse intervalo
de cinco minutos.
Nosso encontro foi poesia, noite compartilhada prosa,
amanhecer ensaio, tarde crônica. És meu curso de literatura favorito
Fui nota de rodapé em tua vida. Mas guardava algo valioso
que a toda hora te atraía.
Li tua última página para descobrir o desfecho. Voltavas
para mim. Agora posso arriscar o início.
Não é a recusa que me excita, é você, musa. É bem querer,
não masoquismo.
Lua Nova é lágrima no céu de inverno, única, fruto de um
soluço cevado no escuro, que brilha como jóia da família.
Estive fora. Fiz um carregamento de poemas. Os guardas da
fronteira abriram fogo. Fiquei ferido de letras. Mas me recompus com um soneto.
Sou teu adicional noturno. Me desconte em pétalas de sonho.
O inverno é só um álibi para eu pedir socorro. O aquecimento
pifou, a neve está no forro. Teu coração gelou mas faça um esforço
Há pouco éramos pequenos, vivíamos numa infância infinita, à
mercê dos adultos. Hoje somos ainda menores. O mundo aumentou sua tirania
RETORNO - Imagem desta edição: Jennifer
Lopez.