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25 de junho de 2012

LONGÍNQUA


Nei Duclós

Suave perfil de mistério, me visitas sem que eu descubra quem te desenha, longínqua.

Adivinhas meu pensamento, ela disse. Sei que é mentira, falei. Mas acredito.

Escutas a palavra esquecida. Vives de ouvido, solista diurno.

Espectador compulsivo, viajas num comboio absurdo, tua vida sem nenhum sentido. Até que no corredor te aparece um anjo e te faz um pedido.

Outras pessoas já fizeram por você. Passas, desnecessário,pelas dobras do Tempo com mãos vazias e uma idéia confusa do que poderia ter sido.

O que vais fazer mais tarde, quando escorregares para aquele espaço ocupado por estrelas invisíveis?

Não resista. Que me importa o frio. Quem manda deixar a janela aberta para a minha fantasia

A pessoa olha para todos os lados e não te enxerga. Te atiras no chão com estardalhaço. Ela ouve o barulho, mas acha que és assim mesmo e não dá bola.

Me registras em teu álbum. Anos mais tarde, consulto. No lugar da fotografia, tem tua marca de batom.

Tocas meu ombro com um suspiro. O céu cai súbito sobre a trilha. Logo agora que eu estava desistindo.

Vamos nos reunir na paisagem de um livro. O que foi escrito há tempos prevendo o futuro.

Ninguém te liga. A não ser a lembrança de alguém, perdida. Decides escrever uma carta. Jogas no rio gelado de junho.

Nada se decifra, desista. Conviva com o desconhecido. Tu mesmo é uma peça de martírio para a percepção de quem te ama.

O adeus te tira do convívio de uma porção do universo. Ruas, casas, bares,parques, aniversários, pessoas somem de vista. Ficas no limbo, à espera de um novo amor.

Lâmpadas automáticas de mercúrio em postes curvos ficam indecisas quando amanhece nublado. Fará noite de dia? Elas piscam assombrando a rua.

Que bonito essas ameaças femininas de não ultrapasse ao lado de fotos lindas. É para acumular a fila do gargarejo. Doçuras.

Gastei todo o meu acervo. Preciso amar de novo.

Conexão em nuvem: os poetas já dominam essa mídia, há tempos.


RETORNO – Imagem desta edição: Constance Towers.