Nei Duclós
Ao ficar acessíveis graças aos recursos
digitais on line, os produtos culturais ultrapassam o limite da
lembrança, da emoção e do gosto e atingem um patamar mais elevado de
costura criativa, que resulta numa percepção mais apurada do que lemos e vemos.
Ficou mais fácil fazer cruzamentos e abordar com originalidade o que
foi visto ou lido de uma forma obsoleta, determinada por sintonias antigas. Isso
nos livra dos analistas de sempre e nos torna protagonistas de uma
análise que superpõe conhecimento e intuição, visão pessoal e
engajamento coletivo.
Precisamos aproveitar e aprofundar nossas
preferências para habitar o espírito. Pois não existem mais lembranças
quando se fala em produtos culturais. Está tudo on line. Música, filme,
livro. Fim da saudade, é tudo simultâneo. Resenhar um livro de 1939 ou
um filme de 1975 não é um ato de memória. Tudo é contemporâneo. Fim do
conceito de "lançamento" ou de "novidade". Está no ar, vira "passado",
ou seja, agora. O que foi feito em 2012 tem a mesma presença do que foi
feito em 1930.
Lembra daquele filme que vimos em eras remotas?
Sim, está no you tube, acesse agora. E aquele livro raro que nunca
consegui ler está em pdf.
Segundo Mario Xavier
Antunes de Oliveira, "os comentários do Nei Duclós me fazem pensar
também que pela primeira vez na história, três gerações -- avô, pai e
filhos, por exemplo -- conseguem conviver e compartilhar informações e
produtos culturais simultaneamente, em tempo real, por uma mesma mídia
comum, sem limitação de tempo, espaço, registro/documentação, acesso ou
reprodução..."
RETORNO - Imagem desta edição: Orson Welles e Joseph Cotten em Citzen Kane, 1941.