Nei Duclós
Não posso chegar perto. Então me condiciono a te tocar pelo
avesso, a poesia.
Trêmula perna impede andar depois do arraso. Compromisso
obriga a sair, mas como firmar o que foi demolido sem piedade?
O dia varrido de sol deixou limpo o piso do céu. Vésper veio
fiscalizar as bordas. Só então a rainha assoma grandiosa, com o brilho
incendiário de uma tocha.
Marcamos encontro no luar. Estávamos nus. As fadas choraram
Estavas oculta embaixo de tanta roupa. Não quis decifrar-te,
apenas saber se consegui chegar onde o espírito arde.
Não tenho verso ressentido porque gosto de todos eles.
Amor, até de olhos fechados. Mas insistem em dizer que é
pura fantasia.
A conversa está muito boa, mas onde colocaste meu beijo?
Na sombra do jardim medra o que imagino: tu tentando
escapar, como um peixe.
Escrevo o que me dás na telha, pássara pousada no teto.
Lá vem a saraivada de versos. Estavam esperando para sair,
os meliantes.
Mas estás imune ao papo na varanda. Preferes um convite para
uma valsa sobre a cama.
Estavas oculta embaixo de tanta roupa. Não quis decifrar-te,
apenas saber se consegui chegar onde o espírito arde.
Verso é telegrama. Abra enquanto é tempo e me chame. Estou em
frente à porta, trabalho em teu correio.
Voltaste de Londres e agora ficas perto. Trazes aquele
sonho, sardenta.
Beijo adiado não perdoa. Quanto mais tempo, mais longo.
Não sou um bom exemplo. Pule minha lição, venha para a cama.
RETORNO – Imagem desta edição: Amber Valetta.