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12 de maio de 2012

TERNURA


Nei Duclós

Redescobri a palavra ternura. Estava no limbo, gasta de tanto uso e depois colocada de castigo. Foi preservada por ti, doçura.

Insistes em ser distante, como se fosse possível tanta ligação não comportar sequer uma carícia. Não precisamos do medo para que o amor, seja ele qual for, vingue.

Começou cedo o dia de mel de outono. É porque acordei contigo em meus braços vazios, amiga.

As palavras são reais, como as nuvens. Fazem de conta que estão ali para decoração do céu do amanhecer, mas de repente, se precipitam.

Estamos de quarentena. Eu, sôfrego numa soga de esperas alheias. Tu, contando nos dedos os minutos sem meu beijo.

Amanhece devagar, sem novidade. Até os pássaros cumprem a rotina. A única coisa que destoa é o teu sono, amor distante.

Busco a poesia nas nuvens do nascente. Elas pincelam o dia ainda no berço. Está um pouco frio. Valha-me a eternidade deste momento.

Relacionamento sério suporta um flerte? Ou uma vida some pelo ralo se houver uma chance?

Já que confirmas, se prepare. Vou te buscar, amante.

Quero tudo o que tens, não o que possuis. Fique com seu patrimônio, eu só preciso do teu sonho.

Guardei uns versos para mais tarde, quando acordares. O perigo é cair do meu bolso e atrair alguma raposa.

Sei que é cedo. Mas o tempo não domina o clima do poema.

Não me respondes, criatura muda. Deixas o poema exposto ao seu destino, o de ser da rua, sem saber se será recebido.

Você sabe com quem está falando? ela me disse. Juro que vou descobrir, falei.

Nem vou comentar a foto em que olhas de lado, sorrindo. Preciso de oxigênio.


RETORNO – Imagem desta edição: Romy Schneider em What´s New Pussycat? (1965).