Nei Duclós
Sublime, me disseste enquanto rodávamos no piso liso da Lua
Te dou razão. Fico com o poema.
Não vens? Perco o dia se não for contigo.
Sofremos a distância. Tomamos atalho de língua: palavra
dita, céu da boca.
Rodo sobre a palavra fazendo ninho. Depois viajo em direção
ao mito.
E tem você, arrependida. Juro que mais não digo. Desisti de
apontar tua paixão. Finges que é puro acaso de algo sem brilho. Por isso
pulsas, sem ver, a vermelhidão de tua saliva.
Não vais me querer, aflita. Melhor assim. Vamos continuar no
nada que nos combina.
Ocupada, talvez nem lembre o que te disse. Não foi
importante. Foi só minha aposta definitiva.
Próxima de manhã, foste a promessa de todo o dia. Depois
senti teu sabor nas cercanias. Ouço barulhos no bosque de sílabas. Soletras,
furtiva.
Quando estiveres pronta, serás minha. Até lá, economize jogo
de cintura.
Não adianta forjar a ruptura. Estás no laço à minha revelia.
Fique na sua e espere eu te colher madura.
Agora que ganhei teu beijo, posso voltar a sonhar, meu
desapego.
Já que foges do poema, de agora em diante publicarei apenas
balanços financeiros. Não se queixe, ausente.
Quando a palavra ultrapassa seus limites, vira dança.
Um acordo de fronteira não precisa de soldados. Basta um
poeta na ponta da língua Pátria.
Cansaste da minha arte, a palavra a reboque do amor de
verdade. Preciso mudar, me aguarde. Voltarei como virtuose da tua alma, por
outras vias, remotos mares.
No mesmo lugar de uma estrada, existe outra, onde os duendes
passeiam. Basta acertar o passo naquele chão que flutua, skate para a fantasia.
Varri o céu em busca da Crescente. Ela "madrugou"
às seis tarde. Se recolheu cedo, não tem permissão para a madrugada. Ainda está
em formação.
RETORNO – Imagem desta edição: Brigitte Bardot?