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23 de maio de 2012

SUBLIME


Nei Duclós

Sublime, me disseste enquanto rodávamos no piso liso da Lua

Te dou razão. Fico com o poema.

Não vens? Perco o dia se não for contigo.

Sofremos a distância. Tomamos atalho de língua: palavra dita, céu da boca.

Rodo sobre a palavra fazendo ninho. Depois viajo em direção ao mito.

E tem você, arrependida. Juro que mais não digo. Desisti de apontar tua paixão. Finges que é puro acaso de algo sem brilho. Por isso pulsas, sem ver, a vermelhidão de tua saliva.

Não vais me querer, aflita. Melhor assim. Vamos continuar no nada que nos combina.

Ocupada, talvez nem lembre o que te disse. Não foi importante. Foi só minha aposta definitiva.

Próxima de manhã, foste a promessa de todo o dia. Depois senti teu sabor nas cercanias. Ouço barulhos no bosque de sílabas. Soletras, furtiva.

Quando estiveres pronta, serás minha. Até lá, economize jogo de cintura.

Não adianta forjar a ruptura. Estás no laço à minha revelia. Fique na sua e espere eu te colher madura.

Agora que ganhei teu beijo, posso voltar a sonhar, meu desapego.

Já que foges do poema, de agora em diante publicarei apenas balanços financeiros. Não se queixe, ausente.

Quando a palavra ultrapassa seus limites, vira dança.

Um acordo de fronteira não precisa de soldados. Basta um poeta na ponta da língua Pátria.

Cansaste da minha arte, a palavra a reboque do amor de verdade. Preciso mudar, me aguarde. Voltarei como virtuose da tua alma, por outras vias, remotos mares.

No mesmo lugar de uma estrada, existe outra, onde os duendes passeiam. Basta acertar o passo naquele chão que flutua, skate para a fantasia.

Varri o céu em busca da Crescente. Ela "madrugou" às seis tarde. Se recolheu cedo, não tem permissão para a madrugada. Ainda está em formação.


RETORNO – Imagem desta edição:  Brigitte Bardot?