Nei Duclós
Sou teu professor de bússola: aponto outros nortes, imanto os
ventos, oponho o cânone, oriento íntimas agulhas.
Bom dia musa. Pus minha camisa no piso, junto com a tua
blusa. E lá vão ficar, por dias. Casal
de roupas sem uso. Nossa pele é o que respira.
Choque no trânsito:
puxas a ponta do cordão do short para acomodar a bomba, tua coxa.
Fantasmagoria: queres como nunca, mas jogas água fria.
Uma hora dá certo. Basta fluir, esse sonho que pousa à toa.
Uma hora dá certo. Basta fluir, esse sonho que pousa à toa.
Já perdeu bastante tempo. Agora ceda. De tocaia todo o
tempo, entenda.
Esse amor
vindo sem querer é pura pele, duelo de arrepio, água de cheiro. Nada segura o
que nem estava escrito, gata tremenda.
Chega.
Venha em curto circuito, não tema. Trema.
Chame como quiser. Só há um jeito de dizer. Te amo como mulher.
Não vou falar mais nada. Virei um beijo.
Mania de entender mulher. Mulher tu não entende. Não seja pretensioso.
Amanheceu e nem me dei conta. Estavas iluminada demais para eu notar a
concorrência.
Este romance vai desaguar no mar e se perder nos corais submersos da
nossa história
Desconfias do que eu digo. Melhor acreditar que tudo não passa de
mentiras. A poesia é um pássaro de luz sem serventia. Melhor ceder à secura,
minha vida.
Antes de eu te dizer, não existias. Eras estrela de um outro céu. Foi
preciso coragem para te trazer.
Escrevo este romance que não acaba. Apenas dorme depois de incendiar a
madrugada.
No meio da praça sou teu segredo. Nossos olhares se cruzam no momento
da banda. É quando me tocas e todas as estrelas caem no teu colo.
Misto de emoção e memória, nosso amor não existe lá fora. Só aqui
dentro, onde moras.
Aos poucos nos acostumamos à ausência. Há tempos parou de doer. Talvez
nunca tenha doído. É como risco na areia que a onda engole. Esquecemos o nunca
ter havido.
Estavas quietinha esquecida de mim. Aí mandei uma nuvem que desceu em
teu colo. O que fazer com alguém que manda uma nuvem de presente? Daquelas de
algodão, de tarde com brisa.
Te perdi, acho.
Desenganado, gastei tudo o que tinha. Não era muito, mas o que faço
agora com a sobra de vida? Talvez seja hora de pegar o navio para a plena
poesia.
RETORNO – Imagem desta edição: Liz Taylor.