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9 de fevereiro de 2012

CAMAFEU DE OURO


Nei Duclós

Já pensei na Lua cheia antes que surja. Antecipo o principal da noite, seu camafeu de ouro.

Com o vestido bordado de estrelas a noite aguarda em seu camarim de seda. Talvez não a chamem para o palco e seja mais um abuso do coral das nuvens

Não devia ter saído para ver a Lua. Ela nem tinha nascido. Lembrei de um verão, há tempos.

É sangue que existe na Cheia. Vem do amor que sente toda semana quando surge a pleno. O rosto rubro da brasa acesa. Tonta de devaneio.

Não vamos perder tempo com a Lua. Ela que fique sapateando sua dança enquanto o eco responde bêbado.

Agora sim a Lua resolveu brilhar. Estava só retocando a maquiagem. E providenciou que as estrelas mais brilhantes ficassem longe dela

A Lua cheia seca as roupas esquecidas no varal, que ficam impregnadas de paixão.

A Lua cheia é teu espelho. Ficas diante dela com tua grandeza feminina. Montas em meu olhar, cavalgada de Walkirias.

No recital de poemas, a Terra entorna o rosto para abarcar o sopro que lhe traz o verso. Não quer chorar, só tremer antes de liberar o dia.

Por aqui, custou a aparecer a Lua. Ela está meio tímida, moeda de luz que se encaixa no cofre de céus cinzas. Como visitante apenas, não rainha. Pelo menos, assim lhe parece quando me engana.

Quando voltas, o que sempre esteve oculto se abre. E de lá sai a luz que me prepara , diamante.


COLARES


Você acenou porque estava ocupada. Fazes questão de me dizer que sou apenas passagem.

Os amores são colares que se rompem. Colho conchas no chão veloz do tempo.

Desisti da tua oferta. Comprei à vista o sentimento que um dia perdi por inadimplência.

Ah, estavas a passeio? Por isso me deixou esperando? Entendo. Me procure quando estiver chorando.

Ela ficou muda. Talvez esteja ruminando meu convite. Ou então deixa o tempo passar para ver se eu esqueço. Mas eu faço plantão porque o amor não permite outra coisa.

Não adianta dizer que está a caminho. Conheço a dúvida quando azeda o vinho.

Não corra o perigo de deixar o coração seco. Abasteça com a ilusão, pelo menos. Não haverá ressaca se houver escuta.

Cada letra preparou o ninho. Mas em vez de livros, teremos gritos.

Tudo já foi dito. Agora vale o escrito.

Fiz uma declaração por escrito. Mas você leu na areia antes da viração.

A felicidade não dura. Essa é a sua sina. Por isso o choro convulso que adivinha o desfecho mal a descobrimos no primeiro momento de cama

O estranho gigante apagou tudo o que estava escrito nas mídias sociais e foi dormir.


PARTITURA


Chove spams sobre apimentar relações ou ponto G. Não se dão conta que as palavras que usam são brochantes, portanto, anti-comerciais, para usar a linguagem deles. Mesmos as mais "ousadas". Palavras são criaturas vivas, caprichosas, incorporam sentimentos, desencadeiam paradoxos. Obedecem à sinceridade, ao amor embutido na letra inventada, que se sintoniza com os mistérios do corpo e da alma. E são uma partitura, se manifestam pela música. Você não fala de prazer sem dominar a linguagem. A não ser que trema no bilhete apressado, jogado na sacada onde a beldade pontifica com sua majestade. É quando a declaração gaga tem chance de derrubar um monumento ou abrir caminho na mata fechada só com um gesto ditado pelo coração.


RETORNO – Imagem desta edição: Marilyn Monroe .

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