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22 de janeiro de 2012
SILÊNCIO
Nei Duclós
Faz tanto tempo que não é mais silêncio. É aposentadoria do sentimento
Não notava a cor exata do cabelo nem do corte. Só agora, passado o tempo, lembro. Graças à foto que guardei atrás do espelho
Ligaste enfim, mas foi engano.
Fomos ao cinema. Estava lotado. Bem que tentamos. Fomos para a cama.
Essa não é pra ti, me garantiram. Tinham razão, mas me dei bem. Ela me usou para humilhar os caras. E aí dançou.
Confluência de admiradores me fizeram desistir. Fui bater em outra freguesia. Lá, onde ela se postou à minha espera
Não invente de falar comigo. Já fechei o teu arquivo.
É bom dizer sempre a verdade. Só quando me flagras, minto.
Não posso dizer frontalmente. Tudo me impede. Por isso ando em círculos. Estou ficando tonta, me dizes.
Se eu fosse rico, compraria todas as tuas flores.
Entendo, é verão. E fim de semana. A solidão é um calendário de desculpas .
Entendi porque houve desencontro. Eu cheguei uma semana adiantado
Escrevi pensando em ti. Acertei no alvo. Leste as entrelinhas.
Cansei da rejeição e mudei de emprego. Deixei a gerência da firma e virei garçom do bar que freqüentas. És a única que eu não atendo
Prometo me comportar. Só me declaro agora uma vez por ano. É bastante quando chegar o fim do milênio
Perdi meu tempo contigo. Voltei por onde vim e achei cada minuto caído quando estivemos junto. Eles ainda pulsam
Chegamos ao limite. Vou partir agora. Não conte com minha volta. Vê se não demora
DOWNLOAD
Te digitalizei, analógica. Agora quero ver fugir.
Fiz download da tua ausência. Assim não dependo de ti para sentir saudade
Me enviei por e-mail. Clique aceitar
Quando rejeitado, eu te amo é spam
Passei rapidinho para te desejar boa noite. Volto mais vezes, a cada cinco segundos
Não é que você seja bonita. Você faz misérias, é diferente
Você me acusa de falta de caracteres
Devia ter te beijado há 20 anos. Agora é tarde para perder a chance de novo
Eu não presto, me dizes. Não tenho conserto. Sou então um produto chinês.
A coruja pia no telhado. Não tem medo? Melhor aceitar meu colo. É de coração.
Já trabalhei de madrugada. Fechamento de revista. É por isso que vou para o céu.
Cometi um up-grade para te conquistar. Ficou razoável, mas não gostaste do software
COMPANHIA
Você é cara. Prefiro colocar na poupança. Lembrarei de você toda vez que retirar os juros
Depenaste o pato mas foste abandonada. Tua solidão é a verdadeira pobreza, não teu saldo bancário.
Prometi Paris mas preferiste Miami. Quis te levar ao Louvre, mas quiseste a Disney. Minhas passagens estavam certas, errei de companhia
RETORNO – Imagem desta edição: The Coleman Sisters. 1844, de Thomas Sully (1783-1872).
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