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4 de janeiro de 2012

AMORA


Nei Duclós

Quatro anos até terminar a guerra. Quando enfim você voltou, ela estava te esperando vestida de batom e dois brincos de pérola

Ela talvez nunca diga te amo por não ser seu estilo. Prefere gostar do que digo, mesmo quando discorda. Curte a reação quando me estoca. Amora

Quando acorda, ela pergunta por minhas palavras. La estão elas, olhando para seus olhos, aninhadas no meu corpo pronto para o bote

Não se preocupe, quando você me magoar eu aviso, disse ela. Acho bom. Será a mensagem mais triste do universo

Quando ela diz que gosta de algo em mim todos os pássaros que ainda estavam no chão levantam vôo

Amarga sensação de desencontro quando não conseguimos sintonizar palavras públicas confinadas em espaços dominados pela indústria.

Recuperamos em parte o que foi perdido. Colocamos sob o braço enquanto caminhamos. Pessoas perguntam. Deve ser amor, respondemos

É difícil quando há guerra. Roubos, desenganos, amarras. Viagens adiadas. Desperdício. Abraços no ar, beijos sem rosto. Mas algo pulsa em nós

Não sabemos o que é. É a seta de Cupido, sussurra o anjo. Às vezes inflama. Outras, esfria. Mas ela está lá, a bandida, atravessada na maçã vermelha

No verão estamos mais à vontade. Dá para tirar devagarinho seu lap top

Pintas as unhas do pé? Beijo uma por uma, mal elas secam. Prefiro quando a cor for violeta

Invento melhor quando desisto de pensar em ti. Ponho a cabeça no lugar, mas eis que surges como a Lua cheia assombrando o quintal de um duende

Porque tudo é invenção, inclusive os deuses. A única coisa real é a tua beleza

Aproxima-se o Angelus, quando tudo se encerra num expediente de ponteiros. Ocupo o lugar do sino. Bato no azul para trincar o céu de estrelas

Acolhe-me em tua fantasia, pequena. Sou o gigante atrapalhado com o espaço que me deram

Não quiseram que eu fosse teu, minha grandeza. Então resolvi tomar à força o território que o amor tinha demarcado para nós antes que existíssimos

Não resta mais nada a não ser a ressaca do tempo em que não sabíamos. Agora que sabemos, bebemos o sonho como se nunca tivesse havido perda

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