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12 de dezembro de 2011
ESCOLHI O DESERTO
Nei Duclós
Sempre que eu quis fazer alguma coisa alguém não deixou. Por isso escolhi o deserto. Ninguém pode me impedir de entardecer
Me afogas em poesia, queixou-se ela. Assim não durmo. Quero que mudes de cama, eu disse. A que eu fiz com a renda dos teus ouvidos
Extraí a palavra encruada no veio. Usei a força física e alguns sonhos. Acharam pouco porque sentiram a tentação de roubá-la
Não me monitore, não me manipule. Não sou marionete de suas pupilas, nem protetor de tua pele. Sou o sujeito distante e não escrevo cartas
Uma frase sua é a trilha onde me situo. Mesmo que fales de outra coisa. Basta saber que esse vento foi gerado por tuas folhas
Quando terminar este romance, jogarei a fórmula no mar, para alimentar os peixes.
Tenho estações no sentimento. Ardo no inverno, chovo no outono, sonho na primavera e me recolho no verão. Venha, viração, firmar o tempo
Interromperam meu trem de palavras e elas ficaram a reboque de outras linhas. Preciso agir rápido porque tua estação é no próximo quilômetro
Escolhes os brilhos mais raros, os poemas mais íntimos. Estou de olho, princesa. Depois não finja que não entende
Assustei você? Achavas que eu estava longe? Fico onde me beijas, na tua imaginação sem freio
Ser cavalheiro é obedecer o protocolo sem dar importância para ele. Beijar a mão por gentileza tem grande força de sedução
Ensina os caras a se comportar, disse alguém. Eu não, disse o interlocutor. Quero vocês todas para mim
Que faço com teu segredo? Vou enterrá-lo no ermo e assim ficarás me devendo. Quero o que tens de sagrado
Não vou facilitar tua vida. Passarei às nove, como combinado. E te arrastarei, beleza, pelos salões com teu tomara-que-caia vermelho.
Chove e teu cabelo molhado prevê a tempestade.Sugiro um quarto, mas queres ir até o mutirão do bairro. Lá é o amor, solidária
Chega tarde e não me acorda. Sai cedo sem bater a porta. Ao meio dia telefona: almoço um sanduiche em tua memória. Janta comigo ou morre
Passaste a semana fora. Chegas morta. Faço um prato bem temperado com suco ácido. Só estou indo à forra, digo, derrubando-a
Não sou romântico, explico. Sou tradutor de sânscrito. Nasci na ilha de Java. E encaro a álgebra como um cogumelo. Estou mais para o pós-tosco
É bom um momento de solidão. É quando sinto falta de ti. São os cinco segundos mais intensos da minha vida
RETORNO – Imagem desta edição: Debra Winger, de costas, no filme O Céu Que Nos Protege, de Bertolucci
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