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12 de agosto de 2011
O TRUQUE DA BLINDAGEM
Transportes, Agricultura, Turismo: o rastro da corrupção se espalha pelo primeiro escalão do governo, mas, como no mensalão, o truque é blindar quem ocupa o Planalto. É simples: primeiro se diz que chefe não é chefe e que subalterno (que nada tem a ver com o chefe) é quem faz toda a besteira. Depois se prova, com o tempo, que não houve besteira. Vimos o que ocorreu no mensalão.A Procuradoria Geral da Justiça e o Minsitério Público provaram que existia uma gang que distribuía propina para comprar votos no Congresso. Primeiro,o presidente era uma vestal, inocente, não tinha nada com isso (apesar de livros como o de Ivo Patarra tenha mostrada que era ele quem liderava o esquema). Mas parece que o crime miou, prescreveu. No caso do tsunami de lama que cerca atualmente o Planalto, estamos na fase da blingagem da presidente. Depois virão os desmentidos (e soterrar o pedido de CPI faz parte disso).
O raciocínio está exposto nas mídias sociais, onde há debate sobre o assunto. O PMDB é culpado pela corrupção e o governo não tem nada com isso, apesar de serem ministros do governo, do vice presidente ser do PMDB e o Congresso ter como presidente um peemedebista. Fizeram alianças espúrias que agora explodem na cara do governo. O que faz o Planalto? Tenta se preservar. O PMDB pressiona, pois é fisiológico e não quer perder a boca, já que ajudou a eleger a chapa. Os militantes então saem a campo pregando a faxina, como se lixo fosse saneamento. Não há limites para a cara de pau.
Lamento que esse tipo de raciocínio esteja sendo assumido por pessoas que prezo e a quem dava o crédito de inteligência política. Mas como é um truque óbvio demais, só posso entender no campo da psicanálise. Como Dilma faz parte dos torturados e presos nos anos de chumbo, parece que existe um vínculo eterno com ela, não racional, apenas emocional ou memorialístico, como se criticá-la fosse desmerecer toda a luta anterior. Isso passa por cima das evidências, pois ela se elegeu com apoio de coisas como o Sarney e Collor e no governo continuou a política de sabujice à indústria financeira internacional, a que jogou milhões de pobres na inadimplência, processo conhecido como ascensão da nova classe média , coisa que merece até um premio Nobel da Paz (quá quá quá).
Com a crise comendo os calcanhares das nações, aqui tenta se blindar a opinião pública com esse tipo de dado fajuto, enquanto vemos exatamente o contrário: milhões na miséria, na violência e no desespero de não poder pagar as contas, já que além de tudo, et pour cause, além dos juros cavernosos a inflação já está comendo. Ter capacidade de comprar em mil prestações um Land Rover e perder para a agência o material rodante voltando à condução não é subir na vida, é ser usado em sua inocência para a gula da indústria financeira. A mentira é tão bem pregada que todos repetem a esmo, como se fosse cânone. O fato é que o Brasil não tirou milhões da pobreza. Transformou milhões de pobres em consumidores inadimplentes.
Não há como separar o Planalto de sua equipe. Foi um toma lá dá cá explícito e funesto, que acabou rebentando, pois existe ainda imprensa, não muita, mas há e também porque gente de dentro do governo, de olho nos cargos, quer se livrar da concorrência. Acho até que o objetivo é o partido único, como aconteceu com o PRI mexicano, que ficou 70 anos no poder à sombra de Zapata e Pancho Villa.
Aqui medrou essa súcia sob a proteção dos chamados anos de chumbo, aquela ditadura que contava com Sarney e Delfim Neto, mas esses saíram ilesos, vivinhos e cheios de poder. Quem perdeu foram as Forças Armadas, que acreditaram que o regime era militar e acabaram ficando com o Celso Amorim.
Conseguiram no mensalão. Desta vez não vai colar. Oposição a isso tem. Não nos partidos, mas no espírito livre e desaparelhado da cidadania indignada. O problema é que a situação está se mexendo. Está querendo fazer manifestações de massa contra a corrupção e a favor de Dilma. Ou seja, transformar oposição em situação.
RETORNO - Imagem desta edição: cena de Lebanon, de Samuel Maoz.
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