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17 de maio de 2010

INSURGÊNCIA


Nei Duclós

Fui mandado de volta à poesia
Pelo Destino vestido para a guerra
Era uma ordem na véspera da bala

Pai jurado em dia de promessa
Parecia moço e não queria a glória
Nem o rebento morto na vitória

Sangue é inútil, mas jamais a musa
Escreva sobre o sol e a primavera
Disse entre pólvora e cartuchos

No lugar da luta, herdei o seu relógio
Fui a pé, para que o poema tarde
Cultivei dor na madrugada em claro

Joguei no rio as folhas do diário
Parei expedições sem passaporte
Quebrei moinhos com meu sabre

Não me conformo e ligo o rádio
Adivinho o rescaldo da batalha
Consulto sinais dos que tombaram

Talvez alguém encontre neste ermo
Motivo para viver longe do front
Em serões de piano e pé de valsa

Livro não escolhe a sua hora
Verso não evita o tempo torpe
No batismo selei a minha sorte


RETORNO - Imagem desta edição: cena do filme “Nosso barco nossa alma”, de Noel Coward e David Lean (1942)

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