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25 de maio de 2010
GÍRIAS
Nei Duclós (*)
Expressões populares que fizeram grande sucesso e agora estão em desuso parecem aquelas peças de coleção que guardamos para mostrar às visitas. É fogo na roupa, se dizia quando o assunto era quente. Na tampa da chocolateira sugeria precisão, era algo como ali na batata. O bicho não deu foi mais pontual, em função de uma chanchada que popularizou o jargão e que vinha precedido pela isca: você sabe da última? O esperado não tinha acontecido, a sorte ficou em compasso de espera. Era esse, acho, o significado.
Como se costuma fazer confusão sobre as décadas passadas, é bom lembrar que na modernidade dos 1950 já haviam enterrado coisas como macacos me mordam ou homessa, mais afeitas a gerações do início do século. Recém americanizados, tínhamos predileção por palavras como big, que não demonstrava apenas o tamanho de alguém ou alguma coisa, mas seu potencial cool, seu carisma e sedução. Fulana é big: além de muito bonita, era gentil e inteligente. Mas tudo isso sumiu com o tempo.
Assim mesmo, noto ressurreições. A meninada gosta de tiradas e palavras obsoletas ditas em tom de novidade. Isso renova a esperança de revisitarmos os clássicos da linguagem. Muitas vezes uma palavra vira de uso corrente e perde seu impacto pornográfico. Como ainda mantém o aspecto bruto da origem, costuma evoluir, como é o caso de caracas, que veio do velho caramba e passou por uma fase mais explícita e que não é usada em ambiente conservador. O é fogo mudou para uma palavra que lembra o patuá de alcova, mas de tanto ser invocada acaba na boca até de quem tem aversão às gírias perversas.
Gosto de lembrar esse assunto porque aos poucos o internetês está tomando conta de todos os espaços. As pessoas postam textos longos em vez de “perpetrar cartapácios” - não é mais sonoro, mais com jeito de tico-tico no fubá? A nacionalidade, em ano de Copa, pode voltar a ser mal vista pelo excesso de exposição. Mas será sempre nossa aliada, nós, que viemos de longe a carregar o tempo como um cão na coleira.
As palavras são carruagens a trafegar pela vida cheia de perigos. Quando a adversidade assoma, podemos até gritar em português hispânico: Aqui del Rei! Não em defesa da tradição, mas do nosso direito de morar na língua que ajudamos a formar.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: cartaz do filme de 1958 de J.B. Tanko.
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