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13 de janeiro de 2010

O HAITI ESTÁ POR TODA PARTE



Vimos recentemente em Copenhague os países gastarem milhões num encontro pífio, para discutir se vão diminuir em merreca por cento as emissões de gás venenoso até 3.050. Agora que o Haiti está aos pedaços, com cenas que parecem a rotina brasileira de destruição provocada pelas enchentes, com idênticas quedas de barracos em morros e gente desesperada chorando, os estadistas pedem “orações” para o que é considerado uma fatalidade. Quem pede orações é o povo, os estadistas deveriam agir.

É um crime que ainda o mundo mantenha apenas organizações humanitárias como a Cruz Vermelha quando deveria ter em prontidão forças internacionais especializadas em catástrofes, não apenas para socorrer vítimas, mas para colocar a casa em ordem e isso inclui todas as engenharias, da ambiental à habitacional. Forças que no segundo seguinte ao terremoto possam se deslocar sem burocracia, celeremente, para o epicentro da tragédia e organize o caos, em vez de ficar dependendo de celulares e twitter para saber o que se passa e só então, depois de oferecer ajuda, chegue com seus cães amestrados para farejar cadáveres.

Passou da hora, inclusive, de reformular todos os conceitos obsoletos de moradias. Até quando veremos o concreto matando em terremotos? Até o ano 3050? Qual seria a solução? Sei lá. Para que servem os cientistas, os técnicos, os especialistas? Para que servem os políticos, os conselheiros, a sociedade civil ou militar? No meio do pesadelo haitiano, já existem quatro militares brasileiros mortos por lá. Os 1.300 soldados nossos que estão lá para "manter a paz" correm risco ou correram risco de vida.

Um parêntese: risco de vida é resultado de uma elipse. Vem de “risco de morrer” ou “risco de perder a vida” ou, por elipse, “risco de vida”. A elipse é uma figura de linguagem, mas como não existe mais ensino da gramática, apenas aplicações de regras sem-vergonhas do acordo ortográfico, então temos de aturar os seguradores de microfones falando em risco de morte, que por elipse seria “risco de perder a morte”, o que é uma asneira e um contrasenso.

Falando em tragédia, vivemos um momento complicado no Brasil. O petismo, a esquerda que a direita gosta, acaba de dar munição para a ressurreição do lacerdismo, aquela paranóia política sacana e vivandeira de quartel que acusa as oposição de “comunizar o Brasil”. Recebi um e-mail anônimo e desaforado me ameaçando, dizendo que o Lula iria calar minha boca e nem blog mais eu teria devido ao famigerado decreto dos Direitos Humanos. Pouco me importa, vivi sob censura a vida inteira. Decidi abrir a boca, mas agora todos resolveram gritar, então tenho me calado, o ruído está muito intenso.

Na maré alta da sacanagem pontifica essa figura fake do blogueiro de ultra-direita, que escreve o que a exaustão popular quer ouvir. É o velho canto de sereia. Trata-se de um sujeito sinistro e perigoso que se dedica 24 horas por dia para atacar fantasmas e gerar um clima de terror, uma postura historicamente comprovada que deságua em ditaduras, como aconteceu em 1964. É o novo Boris Casoy. Todos adoram até descobrir algum esqueleto carnoso no armário.

Soube da história de um deles quando o agora festejado escriba trabalhava numa editora alternativa, antes de um monopólio devorar a publicação e assim impedir que surgisse um novo concorrente. O diretor de redação foi demitido depois de uma onda de calúnias originada dentro da empresa. No seu lugar, entrou alguém que gozava de confiança do diretor demitido. O próprio.

Portanto, leia com atenção, antes de se identificar com a algaravia da sedução ultra-direitista. O petismo deve ser apeado do poder por meio de eleições limpas e não por acusações de comunização e outras asneiras. No dia em que o PT tiver comunistas, a TFP terá trotskistas.

RETORNO - Imagens desta edição: na primeira, a menina no terremoto do Haiti; na de baixo, a menina nas enchentes do Brasil.

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