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15 de agosto de 2009
A LEVE IDADE ADULTA
Nei Duclós (*)
Sabemos o que é maturidade. É quando a pessoa coloca uma roupa branca e caminha dando saltos pela areia de uma praia logo após ter bebido leite desnatado. A leveza vem da falta de responsabilidade embalada como estilo de vida. Isso abre múltiplas perspectivas de felicidade, que será traduzido em mais consumo.
Esse tipo de representação bizarra da idade adulta jamais é contestado, tanto é verdade que não muda há décadas. Pior, fica cada vez mais ousado. Uma personalidade berra eufórica que desistiu do suicídio porque agora pode fazer mais ligações pelo celular de longo alcance. Outra senta de maneira cool nos pacotes jogados por todo canto da casa em mudança e dá um sorriso de lado sob um cabelo em desalinho. É que ela acabou de se divorciar e a dor, claro, não aparece. Vendedores cantam em grupos um grande sucesso romântico enquanto, na prática, descartam quem entra no estabelecimento usando a roupa errada.
Não chegar, mentalmente, à idade adulta, obedece a uma política de resultados. O mais notório é manter a ânsia de consumo adolescente enquanto se luta pela sobrevivência. Não basta explorar as necessidades da população na forma de serviços caros e insuficientes. Ou transformá-las em privilégios lotéricos privatizados, por meio de um sistema que descarta, desperdiça, desvirtua, exaspera e mata pessoas. O grosso do lucro não está nesse nicho. Pois nada chega aos pés do custo-benefício gerado pelo supérfluo vendido como algo essencial, como acontece no estímulo ao consumo desenfreado e cego.
E como tudo está liberado, inclusive gastar bilhões em publicidade oficial para dizer que temos um grande sistema de ensino, é fácil essa política descer para algo mais sinistro, como o tráfico de drogas. Trata-se de vender ilusão como se fosse oxigênio. Isso não se faria impunemente não fosse o corte radical do processo que levaria para a maturidade. Somos ceifados no melhor das nossas vidas pela continuidade da tirania. Esvaziar o espírito da população, atordoá-lo com ruídos produzidos em estúdios infernais, iludi-lo com sensações artificiais que precisam de manutenção permanente são maneiras de deixá-la longe das responsabilidades, que assim são terceirizadas para a mão de meia dúzia.
Jogados fora de um vínculo adulto com a realidade, sob o álibi de que isso é bom para o desenvolvimento, todos ficam à mercê do crime organizado. Trata-se do verdadeiro poder (quem lembra São Paulo vazia por ordem do Primeiro Comando da Capital não tem dúvida). O crime é uma sociedade fechada, hierarquizada, onipresente, vingativa e que se acredita eterna (possui todo o tempo do mundo, ao contrário do cidadão datado). Alimenta-se do dinheiro roubado para exercer o poder. Esse dinheiro vem da especulação (a multiplicação insana e sem base dos lucros até o estouro dos mercados), da sonegação (fruto da chantagem de um regime extorsivo de impostos), do entesouramento ilícito, da poupança arduamente acumulada e da economia paralela em geral. Lavar dinheiro é o vaso comunicante entre a ilegalidade de lucros a qualquer custo e a vida boa dos bandidos que, ao serem flagrados compram os carcereiros, como costuma noticiar a imprensa.
Se esse é o verdadeiro poder, fica fácil entender porque, no lugar de produtos duráveis, tenhamos indústrias voltadas para a graduação infinita do que não precisamos, desde a Barbie chinesa para as filhas e netas até a bolsa milionária das ministras. Os mais velhos suspiram pelas geladeiras que, depois de 40 anos, ainda fabricavam mais gelo do que os dois pólos juntos, de automóveis que batiam sem riscar a lataria, de alimentos não envenenados por genes bactericidas.
Claro que as estatísticas desmentem a decadência visível. A longevidade seria fenômeno atual, produzido pelo estímulo aeróbico feérico, descartado da conseqüente morte em massa de atletas amadores. Desmoralizou-se a velhice clássica, que se fazia respeitar pela sobriedade e a sabedoria vinda da vivência, ao contrário da atual, jogada nos braços do comércio das vaidades e expropriada por meio das armadilhas do crédito fácil.
Se as sucessivas gerações são impedidas de amadurecer, inclusive as mais antigas, tudo apodrece ao redor e exala o mau cheiro de uma nação que perdeu a guerra.
RETORNO -(*)1. Crônica publicada neste fim-de-semana na revista Donna DC, do Diário Catarinense. A ilustração é de Lucas, do DC. 2. Recebi a seguinte mensagem por e-mail: "Caro Nei Duclós: Parabéns pelo seu artigo no Diário Catarinense de domingo! A superficialidade das pessoas me deixa imensamente triste. É muito dificil conviver com a imaturidade do consumo, do sorriso fácil e do medo sobre a verdade. Abraço, Magda Vicini."
BATE O BUMBO: MAIS UM KIKITO PARA MIGUEL RAMOS
Neste sábado, 15 de agosto de 2009, no encerramento do 37 º Festival de Gramado, Miguel Ramos ganhou mais um prêmio importante: melhor ator pela sua atuação no curta dos Irmãos Pablo e Diego Müller, A Invasão do Alegrete.
O Diário da Fonte disse primeiro e repete: Miguel Ramos, nascido, criado e morador mais uma vez em Uruguaiana, é o maior ator do Brasil. Quando publiquei isso, falaram: menos, menos. Mas nos mantivemos firmes. Nos anos seguintes a essa afirmação, Miguel Ramos começou a colecionar kikitos em Gramado e prêmios em outros festivais, como o do Recife. Ele já tinha sido destaque antes pelo seu trabalho de teatro - a APCA lhe outorgou em 1975 o prêmio Revelação pela sua atuação na peça Mockimpott, de Peter Weiss, em São Paulo. Aí foi a vez do cinema.
Vi Miguel Ramos em cena pela primeira vez numa pequena peça montada no palco do grande salão do Colégio Santana. Fazia o papel de um engraxate, que disputava migalhas atiradas por alguém. Havia um monólogo no final, em que seu personagem lamentava a indiferença e a brutalidade humana na sociedade de classes. Ou seja, Miguel Ramos, do Brasil soberano, além de nascer ator, já nasceu crítico.
Ernesto S Oleques disse o que é o curta antes do lançamento:
"A antiga e folclórica rivalidade entre Alegrete e Uruguaiana vai parar na telona, através de um filme em curta metragem rodado totalmente em nossa cidade. Com roteiro e direção de Pablo e Diego Muller, "Invasão do Alegrete" vai retratar uma passagem da nossa história recente, num cenário ambientado na década de 1940.
Este projeto é viabilizado pelo espírito empreendedor e até aventureiro de seus produtores, pois a busca de recursos para esta atividade é uma tarefa difícil. Com verba de um prêmio e apoio da Prefeitura de Alegrete, os cineastas encontraram também o apoio da CAAL, que forneceu a alimentação para o elenco e produção, através do seu refeitório que cuidou também da entrega no set de filmagem.
Os cenários foram montados por carpintaria profissional, recriando o ambiente bucólico de Alegrete nos anos 1940, mas para iluminar tudo e deixar a luz perfeita, exige-se uma grande carga de energia e a rede do local de filmagem não comportava essa exigência. Foi quando entrou em cena a CAAL Centro Comercial que viabilizou a energia do local emprestando transformador e demais equipamentos e acessórios necessários para a rede elétrica de alta tensão.
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