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26 de julho de 2009
EMOÇÕES DO ESPORTE
Nei Duclós
Foi um fim-de-semana de lágrimas, de diversas procedências. As lágrimas boas vieram da seleção brasileira de vôlei, campeã da Liga Mundial pela oitava vez. Quando a nossa bandeira subiu ao som do hino, teve jogador que se desmanchou no pódio. As melhores lágrimas são as de Andrade (foto acima), o lendário jogador da fase áurea do Flamengo, sempre deixado de lado como treinador do seu time do coração e que neste domingo quebrou o chamado tabu ao liderar a equipe que derrotou o Santos pela primeira vez na História, na Vila Belmiro. Andrade dedicou a vitória ao amigo que morreu de câncer recentemente. Sua fala tremida, entrecortada, é oposta às falas decoradas que se ouve depois dos jogos. Andrade merecia ser efetivado no cargo. Mas parece que o rodízio de treinadores obedece a uma lógica mafiosa.
O pior choro, o mais demolidor, foi o da esposa de Felipe Massa no aeroporto antes de partir para Budapeste, pedindo orções para a recuperação do marido que, parece, está agora fora do perigo. Algo diz que talvez não seja tão simples assim. Existem edemas e inchaço no cérebro. Todos rezam para não haver sequelas, mas um piloto de Fórmula 1 não pode ter esse tipo de histórico médico,a não ser, esperamos, que haja um milagre. O importante não é só torcer para Felipe, uma presença admirável nas corridas, escapar ileso, mas continuar em forma para exercer esse perigoso esporte.
Aliás, nunca gostei de Fórmula 1 nem de vôlei, mas escrevo sobre isso porque as tragédias e as vitórias suadas e emocionadas provocaram um rio de choro . Tem o choro de cabeça inchada, dos corintianos que levaram três do Palmeiras, time que está recebendo o técnico vitorioso Muricy Ramalho, demitido porque o São Paulo não estava ganhando tudo, como tinha acontecido nos anos anteriores. Não dá para acreditar. O cara ganha tudo e de repente, por sofrer algumas derrotas, é considerado inapto para o cargo. O São Paulo deveria mirar-se no exemplo do Avaí. O técnico Silas chegou a amargar uma lanterna, mas foi mantido. Quatro vitórias seguidas colocaram seu time no décimo lugar do Brasileirão, podendo sonhar com a classificação para campeonatos internacionais importantes no ano que vem.
Eu não sei porquê me emocionei com o acidente estúpido do Felipe Massa. Sempre sou frio diante dessas corridas insanas de carros envenenados em pistas que terminam onde começam. Acho loucura, uma representação da brutalidade da hegemônica indústria automobilística, mas tratado como se houvesse algum glamour. Sim, existe talento, concentração, fôlego, coragem, agilidade e um monte de qualidades necessárias para os pilotos serem vitoriosos. Mas a essência da coisa não me diz respeito.
Quando o Ayrton Senna morreu, só me despertou o interesse óbvio pela notícia. O drama humano, tremendo, não me comoveu. Já com Felipe é diferente. Aquela perda do campeonato para o inglês no grande prêmio do Brasil, por uma fatalidade, realmente me chocou. Parece que Felipe está sempre às voltas com detalhes fundamentais que acabam mudando sua vida. Todos esperam que ele supere essa má fase, e nunca mais enfrente esse tipo de coisa, uma mola desprendida de um carro vinda em alta velocidade em direção à sua cabeça! é demais. E que volte para vencer, que é a sua vocação. Acho Felipe Massa um sujeito e tanto. Talvez seja por isso que fiquei bem passado com o acidente.
Uma coisa boa da vitória do Flamengo foi o gol de Adriano, quando a bola fez um zigue-zague e passou pelo goleiro, enganado na sua percepção. Só craque faz isso, dá esse feito para driblar o adversário, que vai certo no lance e nem desconfia que a bola obedece a comandos misteriosos, que só os grandes estilistas possuem. Vejo agora Adriano, que está afastado dessa bobagem de Imperador, apesar de insistirem com isso, com simpatia. Deixou sua carreira milionária para se dedicar ao Brasil. Como Ronaldo, expulso por tantos contratempos da Europa e que se encontrou no Corinthians. E que, no domingo, machucou o pulso. Vejam quanta coisa.
Mas ninguém ganha em carisma e simpatia do que o nosso grande craque Andrade. Parece mais velho do que é (nasceu em 1957, guri ainda), saiu aos prantos, de alegria, emoção, alívio e lembrança do amigo morto. Andrade é o cara do fim-de-semana. Representa o esporte brasileiro, que continua e vibra, como uma chama que não se extingue e brilha nos domínios do céu da Pátria. Longa vida aos esportistas do Brasil.
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