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22 de março de 2009

NOTAS QUENTES NA MÍDIA FRIA


Selecionei algumas highlights (eu também posso, ou não?) sobre o Brasil em plena ditadura, escritas no mesmo instante em que eu assistia O doce aroma do sucesso, filme de 1957 com Burt Lancaster e Tony Curtis, dirigido por Alexander Mackendrick (também diretor do clássico “Matador de Velhinhas)", com script e diálogos soberbos de Ernest Lehman (o cara escreveu tudo, de "Sabrina" a "West Side Story") e Clifford Odets. Filme silenciado pela crítica, claro, já que arrasa o jornalismo marrom da América e radiografa o alpinismo social que usa a mídia como arena de crimes. Não ficamos muito atrás.

1. Segundo Mônica Bergamo, da Folha, “André Skaf, filho do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, está contratando Evanise Santos, namorada de José Dirceu, para organizar o cerimonial de um encontro de "novos líderes" que está realizando. Ele já convidou ministros para o evento, como Carlos Minc, do Meio Ambiente, e Fernando Haddad, da Educação. Evanise confirma a informação.” Diz a Carta Capital, que Dirceu está em todas. Quem é José Dirceu, que tanto poder possui?

2. Cozinheira de 47 anos, machucada e confinada no espaço em frente à porta de entrada do ônibus, está presa porque xingou o motorista que não parava de colocar gente na lotação. Ela cometeu crime inafiançável: xingou o sujeito de “preto”. Aconteceu no Espírito Santo. Enquanto isso, gente que mata a namorada pelas costas com dois tiros está solta. Obteve recursos na Justiça.

3. O Senado diminuiu 50 das 180 diretorias, enquanto José Sarney, presidente do Senado, é recebido com banda de música em Macapá. No interior de São Paulo, metade dos vereadores de uma cidade vai presa porque está envolvida com falcatruas. Enquanto isso, Dilma Roussef, apesar da maciça campanha para presidente, diz que não está em campanha e não decola nas pesquisas. Ah, as pesquisas: Lula começa a cair. Alguém está pagando mais.

4. O barulho invade todos os redutos da cidadania, principalmente o doméstico. Não apenas o trânsito, mas a serra elétrica, a academia de aeróbica que move os turbinados com baticum, atordoam a população inerme (desarmada). O Brasil hoje é o país do berro, do bate-estaca e dos carros com capô aberto a milhão no som envenenado. Faz sentido. É preciso impedir que as pessoas pensem.

5. A Globo jura que o acordeon foi popularizado pelo Luiz Gonzaga. Nem citou a Adelaide Chiozzo, dos flmes da Atlântida e da radiofusão da era Vargas. Lembro de milhares de estudantes tocando sanfona, desde Uruguaiana até o Piauí. Quem popularizou a sanfona, o violão, o piano foi Villa-Lobos, secretário de Educação Musical no governo de Getúlio Vargas, que tornou obrigatório o ensino de música nas escolas (e por isso, por um tempo, tivemos a melhor música do mundo - não foi porque somos brasileirinhos brejeirinhos, mas porque tivemos governo um dia). Mas isso não conta, claro. A Globo ensina tudo torto. Seu objetivo é negar qualquer referência à era Vargas e suas realizações.

6. Foi aprovada, quase por unanimidade, pela Justiça, o enclave da Raposa do Sol, uma faixa de terra que funciona como um país à parte. Sob o álibi de proteger os índios, transforma uma larga faixa da fronteira num território à parte. Outros enclaves virão, até a mata virar propriedade, de fato, internacional.

7. Para que Lula foi ver Obama? Para conhecê-lo pessoalmente, claro. Para isso, deveria ficar em casa. Bata um papo pelo skype. Ou mande uns recados pelo twitter. Obama não cedeu em nada e ainda ficou debochando. Agora levou o troco. Foi falar doce com o Irã e levou uma descompostura. Obama é o Mesmo, embalado como Outra Coisa. Os iranianos não engoliram: “Mudem você que aí nos mudamos”, disseram. Clovis Rossi, da Folha, ficou encantado com a mensagem de Obama. Chamou-o de “o pai da Sasha”. Fofo. Deve ser o único paizinho com os códigos da guerra nuclear no bolso. É o Papi-Bum.

RETORNO - Imagem desta edição: Tony Curtis e Burt Lancaster, antológicos, em "Sweet Smell of Sucess". Tony é o assessor de imprensa free-lance subjugado por Burt, o colunista poderoso de um tablóide e de um programa de TV, acompanhado por 60 milhões de pessoas.

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