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9 de dezembro de 2008

REVOLUÇÃO


Nei Duclós (*)

Escravidão é implantar, por qualquer meio, a submissão de corpos e mentes. O exercício da tirania, combatido há séculos pelos espíritos livres, consegue se superar modificando seus métodos, conforme vão mudando os paradigmas. São intermináveis cabeças ressurgidas da Hidra, o mito helênico da eternidade de um monstro. Hoje, exsite tecnologia suficiente para libertar a humanidade, mas esse conhecimento está sob as ordens da servidão.

A produção de alimentos chega ao auge de oferecer sementes estéreis em frutos modificados. Plantar e colher, assim, são exclusividade das corporações. No lugar de um colar infinito de propriedades conhecedoras da complexidade do manejo orgânico, temos os ganhos de escala de processos agrícolas perversos. Há pressão para que isso mude, pois as populações aos poucos acordam para a brutalidade do envenenamento. A demanda cresce, enquanto aqui sobrevivem os latifúndios para a monocultura e outros hábitos condenados pelo bom senso.

Os arqui-bilionários da atualidade são os que se apropriam de uma tecnologia que pode democratizar o acesso ao saber. Criminalizar a livre circulação dos produtos culturais é um aspecto revelador da falta de competência para lidar com a nova realidade. As leis deveriam se adaptar aos avanços tecnológicos para resolver o impasse. Não se deveria deixar que alguns privilegiados exibissem suas megafortunas ao colocar sob suspeita, ou na vala comum do crime sem perdão, todos os que preferem usar as conquistas a seu modo.

No fundo, quem procura alternativas para cumprir suas metas prefere a institucionalização, jamais a marginalidade. É empurrado para ela de maneira burra pelos poderes constituídos, que insistem em manter os modelos de opressão herdados de uma época em que a tecnologia estava a serviço de poucos. Plantar, colher, acessar aquele filme perdido e distante, recuperar a música do passado, se atualizar são ações que não podem ficar à mercê dos que não se contentam em mandar no mundo. Querem interferir em destinos, sugar almas, fazer a cabeça da massa.

É quando se renova a necessidade da palavra revolução. Pacífica, esclarecida, insistente, decisiva, democrática. Desde que tudo isso não se transforme em mais uma ONG.

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 9 de dezembro de 2008, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: foto de Juliana Duclós, onde aparecem suas mandalas cercando meu livro O Refúgio do Príncipe, entre outros exemplares da biblioteca aqui de casa. Está chegando o Natal. Sabe aquele sobrinho, o cunhado, a avó, o irmão, que você precisa dar um presente no lugar de uma lembrancinha? Algo que os emocione, que os surpreenda? Pois dê de presente este livro. Basta me enviar um e-mail (neiduclos@hotmail.com) me dizendo o endereço, que eu digo qual a conta para o depósito. Por vinte reais, com frete incluído (correio normal) para todo o Brasil, você terá em mãos o seu exemplar (se for o caso, autografado para a pessoa que você quiser presentear). Descontos especiais para quem levar mais de um. Participe. Esta é uma campanha do Diário da Fonte, jornal que existe desde 2002 e exercita a liberdade de expressão numa época de ditadura. Poderão dizer: mas você insiste, não? Claro que sim. Insisto: essa é a melhor forma de retribuir a oferta gratuita de textos diários aqui neste espaço. Diga sim ao livro selecionado pelos espanhóis para fazer parte do catálogo da mais recente Feira do Livro de Madri. Tenha na mão o que a Espanha recomenda.

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