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2 de outubro de 2008

VENTANIA



Nei Duclós

Que mundo frio, o da música
Virtuoses nem se falam
Maestros emigram

Que mundo duro, o da escrita
Gênios não se citam
Celebridades brigam

Que mundo morto, o do artista
Bienais celebram ruínas
Galerias pontificam

Que solidão, a do jornalista
O tempo não se entrega
As notícias se vingam

Que mundo sem sentido, este
Em que o talento afunda
No seu próprio exercício

De que adianta esse sonho
Se não deixa pistas?
De que adianta o amor
Imóvel e perdido?

Que mundo estranho o da ametista
Mora esquecida no fundo da pedra
E só faísca quando lhe quebram
A casca impenetrável do espírito

Não basta escrever, esculpir, tocar
O teatro está vazio, o ator não dá na vista
Ele se retira antes de aparecer
Sob as luzes sombrias

Recite este poema
Para o mar que não escuta
Encarne o personagem
Para a indiferente lua

Não importa, a platéia
É feita de multidões futuras
Inexistentes, mas atuantes
Na imaginação crua

Rime sem remorso
Sopre a ventania
A vida é esse papel sem brilho
Com Deus por testemunha

RETORNO - Este é o décimo terceiro-poema inédito publicado este ano. A poesia veio com tudo em 2008. Publiquei também um poema reescrito (Cerro), poemas já colocados na rede (O nome da terra), poemas de meus livros publicados, poemas traduzidos (Tempo de perdão, para o italiano). Vários dos inéditos são feitos a partir de fotos de Anderson Petroceli. O grande hit do ano é Orkutíada, que teve muita repercussão, especialmente, claro, no Orkut. Acho que 2008 me trouxe um novo livro de poemas, que emergiu com força. Há uma abordagem diferente em relação ao que escrevi anteriormente.

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