Um editorial é a maneira elegante de defender um crime. É publicado em espaço nobre, a página dois dos jornais, que só deveria ser lido por aqueles que comprovassem renda acima de um milhão de dólares/ano. Usa uma linguagem em cima do muro, mas um muro alto, adornado, que abriga uma súcia de atiradores de elite em seus contrafortes (ah, essas palavras beligerantes!). No fundo, não serve para nada, pois nem costuma ser lido, mas é uma forma de a aristocracia do crime organizado, a que comanda o país ou o mundo, dar seu recado. Se o tema e a abordagem são emitidos por osmose, convicção do escriba, ordem de pagamento, lavagem cerebral, não sei dizer. Mas uma coisa é certa: quem escreve editorial usa luvas de pelica. Aposto que cheira rapé.
Vamos a um exemplo. Com o título de “Licença nuclear”, a Folha elogia o Ibama por autorizar um projeto criminoso, a construção de Angra 3, “mediante solução duradoura para questão do lixo atômico”. Ou seja, o Ibama exige o que ninguém pode assegurar e com essa impossibilidade abrem-se as comportas para o Brasil ter mais um monstrengo desses, causador de inúmeros acidentes, essa estupidez humana travestida de solução científica. O editorialista, usando vaselina nas letras, diz o seguinte: “As fortes emoções que o tema desperta. e o excesso de segredo com que os militares costumavam conduzir projetos nessa área já prejudicaram demais a exploração dessa matriz energética. Passa da hora de abordar a questão de forma racional e desapaixonada”.
Vai conversar com as vítimas de Tchernobyl,se ainda estiverem vivas, ver como são ou foram as fortes emoções deles. Vá conversar de forma racional e desapaixonada com quem se fodeu nos acidentes das usinas nucleares antigos e recentes. “Num cálculo puramente pragmático”, continua o editorial criminoso, “ é interessante para o Brasil investir em usinas nucleares. O país já despendeu R$ 1,5 bilhão em equipamentos e estudos prévios relacionados a Angra 3. Nos cálculos da Eletronuclear, com mais R$ 7,3 bilhões, a usina poderia ficar pronta em cinco anos e meio. Assim, a planta entraria em operação em 2014, quando o país decerto precisará dos 1.350 megawatts (MW) que ela terá capacidade de gerar.” O país “decerto” vai precisar de um troço letal, que gera lixo atômico para caralho e está sempre à mercê de um possível acidente.
“Centrais atômicas exigem investimentos iniciais altos, mas que tendem a ser compensados por um baixo custo de operação - exatamente o contrário do que ocorre com a matriz térmica.” Vejam como usam as palavras. Matriz, por exemplo. Matriz é a mãe. Não existe nada mais anti-geração do que uma matriz nuclear. Que baixo custo é este quando vidas e o futuro da vida na terra estão em jogo? Nada disso importa, apenas os bilhões de dólares “despendidos” ou a “despender”. Gastar, nem se fala, é despender mesmo. Usar verbos alternativos é uma maneira de intensificar o uso da vaselina no texto.
“De resto”, continua o escriba monstruoso, “o mundo inteiro está repensando as objeções contra a energia nuclear. Por não queimar combustíveis fósseis, é uma forma de geração relativamente limpa no que diz respeito ao aquecimento global.” Mas que falta de respeito. Quer dizer que o negócio é achar que energia nuclear é “relativamente” limpa, já que nos assustaram bastante com o tal aquecimento global. E o que significa “relativamente" limpa? Não polui, desde que fique confinada em toneladas de concreto? Só polui um pouquinho, quando mata milhões até ser debelada novamente?
O editorial descobre que “o principal argumento contra a utilização dessa matriz é o da segurança”. E aplaude a construção de um “depósito definitivo” para o lixo atômico, que seria a tal exigência louvável do Ibama. Onde seria esse depósito, digamos, definitivo? Na Lua? Na véia? Sim, só pode ser na véia. Imagino que o editorialista e os responsáveis pela publicação dancem um tango de rosto colado depois de cometerem uma barbaridade dessas. Catem-se.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: não se assustem, a emissão de vapor da usina nuclear é considerado não -tóxico. Garantido! 2. Neste domingo, dia 27 de julho de 2008, às 16 horas, estarei autografando meus livros na simpática Mar e Letras, livraria aqui do bairro de Ingleses, no Norte da Ilha de Santa Catarina. A Mar e Letras promove uma feira do livro atraente, cheia de novidades e preços ótimos. Fica no Centrinho de Ingleses, bem em frente ao supermercado Colina. Fácil. Ao lado do Oceano Atlântico.
Vamos a um exemplo. Com o título de “Licença nuclear”, a Folha elogia o Ibama por autorizar um projeto criminoso, a construção de Angra 3, “mediante solução duradoura para questão do lixo atômico”. Ou seja, o Ibama exige o que ninguém pode assegurar e com essa impossibilidade abrem-se as comportas para o Brasil ter mais um monstrengo desses, causador de inúmeros acidentes, essa estupidez humana travestida de solução científica. O editorialista, usando vaselina nas letras, diz o seguinte: “As fortes emoções que o tema desperta. e o excesso de segredo com que os militares costumavam conduzir projetos nessa área já prejudicaram demais a exploração dessa matriz energética. Passa da hora de abordar a questão de forma racional e desapaixonada”.
Vai conversar com as vítimas de Tchernobyl,se ainda estiverem vivas, ver como são ou foram as fortes emoções deles. Vá conversar de forma racional e desapaixonada com quem se fodeu nos acidentes das usinas nucleares antigos e recentes. “Num cálculo puramente pragmático”, continua o editorial criminoso, “ é interessante para o Brasil investir em usinas nucleares. O país já despendeu R$ 1,5 bilhão em equipamentos e estudos prévios relacionados a Angra 3. Nos cálculos da Eletronuclear, com mais R$ 7,3 bilhões, a usina poderia ficar pronta em cinco anos e meio. Assim, a planta entraria em operação em 2014, quando o país decerto precisará dos 1.350 megawatts (MW) que ela terá capacidade de gerar.” O país “decerto” vai precisar de um troço letal, que gera lixo atômico para caralho e está sempre à mercê de um possível acidente.
“Centrais atômicas exigem investimentos iniciais altos, mas que tendem a ser compensados por um baixo custo de operação - exatamente o contrário do que ocorre com a matriz térmica.” Vejam como usam as palavras. Matriz, por exemplo. Matriz é a mãe. Não existe nada mais anti-geração do que uma matriz nuclear. Que baixo custo é este quando vidas e o futuro da vida na terra estão em jogo? Nada disso importa, apenas os bilhões de dólares “despendidos” ou a “despender”. Gastar, nem se fala, é despender mesmo. Usar verbos alternativos é uma maneira de intensificar o uso da vaselina no texto.
“De resto”, continua o escriba monstruoso, “o mundo inteiro está repensando as objeções contra a energia nuclear. Por não queimar combustíveis fósseis, é uma forma de geração relativamente limpa no que diz respeito ao aquecimento global.” Mas que falta de respeito. Quer dizer que o negócio é achar que energia nuclear é “relativamente” limpa, já que nos assustaram bastante com o tal aquecimento global. E o que significa “relativamente" limpa? Não polui, desde que fique confinada em toneladas de concreto? Só polui um pouquinho, quando mata milhões até ser debelada novamente?
O editorial descobre que “o principal argumento contra a utilização dessa matriz é o da segurança”. E aplaude a construção de um “depósito definitivo” para o lixo atômico, que seria a tal exigência louvável do Ibama. Onde seria esse depósito, digamos, definitivo? Na Lua? Na véia? Sim, só pode ser na véia. Imagino que o editorialista e os responsáveis pela publicação dancem um tango de rosto colado depois de cometerem uma barbaridade dessas. Catem-se.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: não se assustem, a emissão de vapor da usina nuclear é considerado não -tóxico. Garantido! 2. Neste domingo, dia 27 de julho de 2008, às 16 horas, estarei autografando meus livros na simpática Mar e Letras, livraria aqui do bairro de Ingleses, no Norte da Ilha de Santa Catarina. A Mar e Letras promove uma feira do livro atraente, cheia de novidades e preços ótimos. Fica no Centrinho de Ingleses, bem em frente ao supermercado Colina. Fácil. Ao lado do Oceano Atlântico.
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