Páginas

15 de maio de 2008

NOTÍCIAS ESPANTOSAS


Sou um consumidor mediano do noticiário. Leio a Folha, acompanho os jornais da Globo (a única emissora que tem sinal decente por estas bandas, onde a TV a cabo não chegou), às vezes consulto outras fontes e só quando um assunto me invoca desencadeio a busca pelo Google. Passo meio lotado pelos blogs. Para saber o que se passa onde moro leio o Diário Catarinense. Mas tenho um editor ótimo, o jornalista Paulo Nogueira, que, por e-mail, me envia artigos, matérias, hight lights do que se passa pelo mundo. Por isso, o que comento a seguir tem esse limite de abastecimento, o que não impede que a gente extrapole nas análises. Como dizia minha mãe, me tiraram tudo, menos a capacidade de dizer o que bem entendo.

TRÂNSITO - Na assombrosa série de reportagens dos jornais televisivos da Globo sobre a encrenca que é o trânsito nas grandes cidades brasileiras, falta entrevistar os executivos das montadoras e os donos das empresas de transporte. Os maganos não mostram a carinha para bater. Nem tudo depende de políticas públicas. É preciso deixar de linkar o lucro a qualquer preço à custa da sobrevivência da espécie. Falta também apontar o excesso de publicidade e o crédito fácil como parceiros da culpa pelo entupimento geral. Quando dói no bolso, todos se calam. E dê-lhe repórter acompanhando os infelizes que gastam décadas para ir e voltar do trabalho. Chamem os milionários que colocam sucata nas ruas.

O que me impressionou é a tese de que a tigrada, da classe média (subornada sucessivamente pela política econômica da ditadura implantada desde 1964) precisa ser conquistada para pegar ônibus. Aí aparecem os ótimos micro-ônibus de Porto Alegre, que são rápidos e com tarifas razoáveis. Para atrair a classe média é preciso transporte de qualidade, diz a autoridade. E para servir o povo, só transporte de merda? A entrevistada, advogada jovem, rica e loirosa, falando pelo nariz (o feminismo é fanho) destaca as vantagens de se pegar o micro-ônibus., Enquanto formos divididos entre privilegiados e servos da gleba, nada seremos, a não ser um amontoado de narizes chafurdando no lixo.

Nas tomadas de helicópteros, vemos a fila de carros e ônibus e nos lembramos dos trens. Graças ao mineirinho sestroso JK e à ditadura de 64, sucateamos o transporte ferroviário, que atualmente em outros países é o mais moderno e eficiente do mundo, em favor do diesel sujo e da gasolina adulterada. Pagamos caro, mas ninguém lembra a origem do mal. É como se o pesadelo fizesse parte da ordem natural das coisas. Não faz. É fruto de uma intervenção, quando nos tiraram a soberania e nos transformaram em consumidores de porcarias.

FRITURA AMBIENTE - A Marina Silva cansou de ser fritada pelo Lula, que precisava dela para manter as aparências enquanto vai fazendo cagada em cima de cagada na Amazônia,. São várias: transformar a reserva indígena num espaço contínuo, criando um país dentro do Brasil, contrariando assim a estratégia básica de preservar a nacionalidade nas nossas fronteiras; não intervir diretamente no desmatamento, que aumentou; dizer que preservar o meio ambiente é defender os bagres; compactuar com a transformação da mata em biodiesel, soja e cana.

Esse assunto clama por informação. Ontem vi no Jornal Nacional escrituras públicas de fazendas de arroz datadas de décadas atrás, outras dos anos 30 e um empresário dizendo que sua fazendo nunca se situou em área indígena. Criaram um estado de guerra em Roraima a troco de nada, por pura incompetência. Mais do que a cobiça internacional, o que pega na Amazônia é a falta de escrúpulos, planejamento e vergonha nacionais. Somos tão ruinzinhos.

Agora o Carlos Minc ocupa o lugar de Marina Silva com o mesmo discurso e propósito: por fora desenvolvimento sustentável, por dentro fraqueza para enfrentar a quantidade de interesses poderosos que dominam a região. Lula precisa de Minc para apaziguar a comunidade internacional, que ficou chocada com a saída de Marina. Agora, a chanceler alemã dizer que o planeta é de todos é de lascar. Aquela porção do planeta que é o território da Alemanha é só dos alemães, pois não? Ou posso meter a colher torta lá?

Já sei o que significa planeta: Brasil! Quando eles dizem que são responsáveis pelo planeta (que poluem sem parar) eles querem dizer que o Brasil é deles. Simples assim. É um conceito que vem a calhar: eles acabaram com o ambiente deles (tudo bem, a Alemanha é um primor de política ambiental, mas só depois que destruíram tudo, ou não?) e agora metem o olho grande no nosso. Querem etanol que não tenha trabalho escravo? Deixem disso. Basta não querer o etanol. Isso não, não é mesmo? Vão cortar cana transgênica na neve.

CICLONES E TERREMOTOS - Fico impressionado com a China. Para onde a câmara aponta, não há miséria. Há destruição, provocada pelo terremoto, mas não existem indigentes. São todos chineses. Impressionante. Já na Birmânia (Mianmar o catso, parem com isso) é como no Brasil: favelões varridos do mapa, mais de cem mil mortos e vem mais chuva por aí. A Globo chama a ditadura da Birmânia de militar socialista. Socialista como, cara pálida, se em mais de 40 anos de governo eles só têm a mostrar a miséria? Socialismo é distribuição de renda. Mas é imperiosa a necessidade de desmoralizar o socialismo. Que coisa.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: o soberbo, veloz, confortável e barato bonde holandês, o tram de Amsterdam. Foto de Daniel & Carla Duclós. Lá não é como aqui, que trilho significa passado, Maria Fumaça ou propaganda de Rhum Creosotado. 2. Geraldo Hasse toca na ferida no seu espaço do site Século Diário. Seu artigo, "Vem aí o monstro do longo prazo", é uma costura brilhante do que está pegando no trânsito, no meio ambiente e no futuro de todos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário