Quando falo em ditadura, há moita geral ao redor. No Comunique-se, onde a toda hora toco no assunto, ninguém replica, ninguém diz: “não, não estamos numa ditadura”. Passam por cima, passam lotados. Ditadura, assim como os trens e o trabalhismo, pertencem ao “passado”. Falar em ditadura seria sentir saudades dos tempos idos. Nunca pensei que eu pertenceria ao grupo mais discriminado de todos, os que acumulam idade. Muitos tapinhas nas costas e um “pronto, pronto, já passou” é o que menos precisamos agora. Ainda mais que sobram evidências de que vivemos numa ditadura.
O escândalo é que a palavra democracia, de tanto ser repetida pelos ditadores, acabou colando. É “bem” ser democrata. Quando vejo o cinismo vestindo a roupa da pseudo liberdade, descubro que democracia é uma espécie de grife chic que exibe as qualidades portentosas dos bem postos. Pessoas de bem, ou seja, gente de posses, são agora democratas. Adoraram 1964, continuam adorando. O que chamam de democracia serve apenas para colocar a culpa na cidadania pelos horrores gerados na ditadura. “Ah, mas você votou neles, agora agüenta”. Impõem os candidatos nicados e te oferecem a escolha. O voto acaba obedecendo a máxima do “não tem tu, vai tu mesmo”.
O passado parece ser “coisa de pobre”: é feio falar nisso. A elegância da moita, o silêncio em relação à verdade, é a tática tanto dos espertalhões, quanto dos sobreviventes. Como vivemos em cima de um monte de cadáveres, que cresce todos os dias, então calamos e olhamos de maneira significativa para o nada. Mas é perda de tempo. Ditadura existe e tem seu núcleo nos Estados Unidos. Vejam por exemplo o filme “O Suspeito" (Rendition), de 2007, do roteirista Kelley Sane e do diretor Gavin Hood. É sobre a tortura dos prisioneiros levados para países de merda, a cargo da CIA. As cenas reproduzem os pesadelos que pertenciam ao Terceiro Mundo.
Nos Extras do dvd, há um documentário que mostra alguns casos de inocentes torturados, depoimentos que são intercalados pelas mentiras oficiais, de cara limpa, de W. Bush e Condoleeza Rice (recebida com tapete vermelho pelos brasileiros, que ficam de cu para cima quando ela passa por aqui a caminho da Argentina). Destroem vidas, eliminam carreiras, quebram famílias em nome da segurança deles. Já vimos esse filme e continuamos vendo.
No artigo “Chile Libertad con las manos atadas”, publicado na edição deste domingo no La Insignia, Roberto Ortiz diz textualmente: “ Christopher Cyril Harrison y Joffrey Paul Rossj, periodistas franceses, fueron detenidos en Collipulli, IX Región, mientras realizaban un documental sobre la situación del pueblo mapuche.(...) Varios periodistas y fotógrafos han denunciado ser objeto de golpizas y amenazas por parte de la policía, entre ellos el gráfico Jorge Zúñiga y los jóvenes videístas de Indymedia y otros medios de comunicación independientes. (..)La libertad de expresión en Chile sigue de manos atadas. Recientemente, la Corte de Apelaciones de Santiago desestimó una querella presentada por el ex militar y represor de la dictadura de Augusto Pinochet, Edwin Dimter, contra quienes lo evidenciaron como el responsable del asesinato del cantautor comunista Víctor Jara, ocurrido el 14 de septiembre de 1973.”
Ou seja, torturam, matam, censuram e fica tudo por isso mesmo. Os americanos agora provam do próprio remédio. Criaram as ditaduras no Terceiro Mundo, mantêm esse sistema com arrocho financeiro, especulação, invasão, dominam a mídia comprada e são apoiados pelos traidores de sempre, os que adoram viajar às custas do povo brasileiro, distribuindo abobrinhas pelo mundo todo. Podem dizer o que quiserem, mas as palavras de ordem continuam, infelizmente, intactas: Abaixo a ditadura e fora o imperialismo.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: Reese Whiterspoon, no papel da esposa grávida do torturado, aguarda o momento de ser recebida para obter informações sobre o marido. Cena do filme "O Suspeito". 2. A Folha deste domingo está um espanto. Há vários exemplos do bem pensar na ditadura. Primeiro achar que o maestro Karajan engessou a música erudita para as próximas gerações. Segundo, achar que ninguém sabe o que disse Ptmolomeu ("vocês, que não assistiram minha aula", escreve o articulista científico). Terceiro, defender a brutal repressão chinesa no Tibete, já que a China teria "modernizado" a região. Isso tudo está disseminado em editoriais, artigos, resenhas etc. A aparente diversidade dss fontes trai a mesmice dos objetivos, que é desmoralizar o gênio, confiar no sistema global, entronizar a mediocridade como produtora de pensamento, desprezar a opinião pública, cagar em cima do sucateamento da educação e pontificar sobre o óbvio com a pose da erudição cheia de posses. Tudo isso embalado por um veículo que usa de modo errado a tradição da livre opinião, já que repete, em todas as páginas, as evidências do triunfo do mundo transformado em mercadoria.
O escândalo é que a palavra democracia, de tanto ser repetida pelos ditadores, acabou colando. É “bem” ser democrata. Quando vejo o cinismo vestindo a roupa da pseudo liberdade, descubro que democracia é uma espécie de grife chic que exibe as qualidades portentosas dos bem postos. Pessoas de bem, ou seja, gente de posses, são agora democratas. Adoraram 1964, continuam adorando. O que chamam de democracia serve apenas para colocar a culpa na cidadania pelos horrores gerados na ditadura. “Ah, mas você votou neles, agora agüenta”. Impõem os candidatos nicados e te oferecem a escolha. O voto acaba obedecendo a máxima do “não tem tu, vai tu mesmo”.
O passado parece ser “coisa de pobre”: é feio falar nisso. A elegância da moita, o silêncio em relação à verdade, é a tática tanto dos espertalhões, quanto dos sobreviventes. Como vivemos em cima de um monte de cadáveres, que cresce todos os dias, então calamos e olhamos de maneira significativa para o nada. Mas é perda de tempo. Ditadura existe e tem seu núcleo nos Estados Unidos. Vejam por exemplo o filme “O Suspeito" (Rendition), de 2007, do roteirista Kelley Sane e do diretor Gavin Hood. É sobre a tortura dos prisioneiros levados para países de merda, a cargo da CIA. As cenas reproduzem os pesadelos que pertenciam ao Terceiro Mundo.
Nos Extras do dvd, há um documentário que mostra alguns casos de inocentes torturados, depoimentos que são intercalados pelas mentiras oficiais, de cara limpa, de W. Bush e Condoleeza Rice (recebida com tapete vermelho pelos brasileiros, que ficam de cu para cima quando ela passa por aqui a caminho da Argentina). Destroem vidas, eliminam carreiras, quebram famílias em nome da segurança deles. Já vimos esse filme e continuamos vendo.
No artigo “Chile Libertad con las manos atadas”, publicado na edição deste domingo no La Insignia, Roberto Ortiz diz textualmente: “ Christopher Cyril Harrison y Joffrey Paul Rossj, periodistas franceses, fueron detenidos en Collipulli, IX Región, mientras realizaban un documental sobre la situación del pueblo mapuche.(...) Varios periodistas y fotógrafos han denunciado ser objeto de golpizas y amenazas por parte de la policía, entre ellos el gráfico Jorge Zúñiga y los jóvenes videístas de Indymedia y otros medios de comunicación independientes. (..)La libertad de expresión en Chile sigue de manos atadas. Recientemente, la Corte de Apelaciones de Santiago desestimó una querella presentada por el ex militar y represor de la dictadura de Augusto Pinochet, Edwin Dimter, contra quienes lo evidenciaron como el responsable del asesinato del cantautor comunista Víctor Jara, ocurrido el 14 de septiembre de 1973.”
Ou seja, torturam, matam, censuram e fica tudo por isso mesmo. Os americanos agora provam do próprio remédio. Criaram as ditaduras no Terceiro Mundo, mantêm esse sistema com arrocho financeiro, especulação, invasão, dominam a mídia comprada e são apoiados pelos traidores de sempre, os que adoram viajar às custas do povo brasileiro, distribuindo abobrinhas pelo mundo todo. Podem dizer o que quiserem, mas as palavras de ordem continuam, infelizmente, intactas: Abaixo a ditadura e fora o imperialismo.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: Reese Whiterspoon, no papel da esposa grávida do torturado, aguarda o momento de ser recebida para obter informações sobre o marido. Cena do filme "O Suspeito". 2. A Folha deste domingo está um espanto. Há vários exemplos do bem pensar na ditadura. Primeiro achar que o maestro Karajan engessou a música erudita para as próximas gerações. Segundo, achar que ninguém sabe o que disse Ptmolomeu ("vocês, que não assistiram minha aula", escreve o articulista científico). Terceiro, defender a brutal repressão chinesa no Tibete, já que a China teria "modernizado" a região. Isso tudo está disseminado em editoriais, artigos, resenhas etc. A aparente diversidade dss fontes trai a mesmice dos objetivos, que é desmoralizar o gênio, confiar no sistema global, entronizar a mediocridade como produtora de pensamento, desprezar a opinião pública, cagar em cima do sucateamento da educação e pontificar sobre o óbvio com a pose da erudição cheia de posses. Tudo isso embalado por um veículo que usa de modo errado a tradição da livre opinião, já que repete, em todas as páginas, as evidências do triunfo do mundo transformado em mercadoria.
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