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5 de outubro de 2007

OITO DIAS NA SEMANA


O sonho, quando se realiza, sofre de uma overdose de realidade. É tão concreto o momento que nem nos damos conta que um dia imaginamos tudo aquilo. Agora, diante do fato, parece que nem sequer sonhamos, ou que teríamos inventado outra coisa. Mas foi exatamente isso que um dia formatamos no nosso coração. Com a vantagem que a realidade é muito mais complexa, mais convincente e gratificante do que qualquer delírio. É tão intensa a experiência que podemos correr o risco de não enxergar o que estamos vivendo como a realização de um sonho.

Aconteceu comigo algo semelhante na semana que começou sábado, dia 29 de setembro, até ontem, dia 4 de outubro. A sensação foi de oito dias numa semana, parafraseando os Beatles (como sabemos, não existem ex-Beatles, como insiste a mídia de maneira obscura; quem são os Beatles atuais? Os mesmos de sempre, logo o ex está descartado). De cara, faço um balanço: quantas vezes sonhei em recitar meus poemas em Porto Alegre, recriando os recitais da juventude? Milhares de vezes. Pois aconteceu.

No dia 29, na sala Barbosa Lessa do Centro Cultural Érico Veríssimo, na rua da Praia, numa sala ampla, limpa, iluminada, para uma seleta platéia atenta, recitei vários poemas, recentes e antigos. Na platéia, uma seleção brasileira: os poetas Oliveira Silveira (um dos homenageados do evento, Porto Poesia), Isaac Starosta (que tive a honra e o privilégio de conhecer pessoalmente), Emílio Chagas (poeta ainda muito oculto, que não via há tempos), Mario Pirata (um dos organizadores do evento) e Marco Celso Viola (também organizador do Porto poesia e autor de alguns poemas que recitei naquele momento). Marco me escreveu o seguinte logo depois que voltei: “Queria agradecer a menção do meu trabalho durante a tua palestra e ressaltar a beleza dos teus novos poemas que ouvi”.

Logo depois, caminhei alguns metros General Câmara acima até a livraria Roma, para participar de um evento promovido pela própria Livraria e o Jornal Vaia. Junto com Cláudio Levitan, conversamos sobre inúmeros projetos de música e literatura. Quantas vezes imaginei reencontrar Cláudio Levitan, o múltiplo talento que levou sua “Longa Milonga” para a Suíça, que é autor de estupendos livros infantis, que musicou Pé de Pilão, de Mario Quintana, que agora tem uma gravadora, que produz seus cd caprichados e maravilhosos?

Esse é Cláudio Levitan, autor dos belíssimos desenhos que ilustram meu livro de estréia Outubro, o cara dos mil instrumentos, que mantém o segredo da criatividade permanente, e que, ainda por cima, nos canta uma versão do clássico Coração de Luto, de Teixeirinha, com letra vertida para uma língua inventada pelos duendes que povoam sua literatura. Convenhamos, é demais. De quebra, o cara ainda me canta a canção que ele fez sobre poema meu, publicado em Outubro, que diz assim: “O desespero é uma flor/ que come carne/ e arde no meu peito de cantor/ Levei uma surra de navalhas, preso num eterno elevador/ Num sanatório de sonho, tenho a mão sangrada, quero o silencio de uma estrada, nova e calada”. Levitan sobra.

Nesse evento, lancei a semente de uma idéia: produzir um cd com meus poemas musicados por inúmeros talentos. Vamos fazer um balanço: Claudio Levitan, Bebeto Alves, Mutuca Weyrauch, Raul Elwanger, Zé Gomes. A unidade do cd seria o poeta, disse Levitan. Já pensou?

Pois bem. Voltei para Florianópolis e o que acontece? No dia quatro, participei da inauguração da Feira Intermunicipal do Livro de São José (que fica até dia 14, no Shopping Itaguaçu), situado na chamada Grande Florianópolis. Foi em São José que escrevi a maior parte de três livros meus: Universo Baldio, No Mar, Veremos e O Refúgio do Príncipe. Pois foi nesse município que recebi a medalha Mérito Escritor “Cruz e Souza”, alta honraria da Câmara Catarinense do Livro. Estou com a medalha em casa. Recebi os cumprimentos do presidente da Câmara, José Vilmar da Silva (esposo da escritora e livreira Irene Rios da Silva), o poeta Alcides Buss, o escritor Jair Hamms, entre outros.

Na seqüência, expus meus livros dentro do Shopping, inaugurando assim a presença de autores nos espaços reservados para autógrafos. É muita coisa para uma semana. Tudo pontuado, bem no meio, por uma gripe alérgica, que graças a Deus foi embora devido à minha insistência em cumprir meus compromissos deste ofício árduo e gratificante.

RETORNO - Imagem de hoje: o catarinense Cruz e Souza, glória da poesia brasileira.

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