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23 de agosto de 2007

PORNOGRAFIA POPULAR

Duas prostitutas quase nuas na piscina fingindo tesão uma pela outra, sob as vistas cheias de sopros para dentro de um quase cinquentão, foi a cena que iniciou uma série de novas baixarias na novela das nove da Globo e que culminou com um escândalo envolvendo noivo algemado em dia de casório.

O Ibope anuncia que a audiência atingiu seu pico, não importa o que signifique esse tipo de pornografia explícita em horário nobre, aquele em que todo mundo senta compulsoriamente diante da TV, já que não existe lugar para onde ir, devido à poluição, o caos urbano, à violência e aos altos preços do lazer .

Não se trata de contrapor à pornografia popular a falsa virtude de um programa religioso, como acontece na Band e que é um desastre absoluto. Mas de se perguntar o que acontece com as pessoas expostas a esse tipo de crime comercial e apelativo? Logo depois do noticiário da tarde, no programa Vídeo Show, as atrizes que fazem papel de putas comentam alegremente mais esse passo importante para as suas “carrãiras”.

Atenção: vai ao ar de tarde. Não há limites para a insânia. Uma pessoa que cresce vendo prostituição guindada a entretenimento maior só pode encontrar caminhos fora de certos princípios. Vão achar que se prostituir é bacana, legal, todo mundo apóia e dá força. Será que também vai virar obrigatória?

Há milhões de assuntos a serem abordados na televisão. Internet, por exemplo, só aparece sob completa demonização. Só quando prendem quadrilhas que tungam contas por meia do roubo digital é que a Internet é matéria. Ou então no único canal existente na rede, exatamente o do monopólio televisivo. Internet, tecnologia, literatura, viagens, negócios: por que deixar bons assuntos de lado e apostar na espetacularização da baixaria, da miséria, da brutalidade, do vazio?

Claro que é para, nos intervalos comerciais, vender virtudes. É a educação via Ong, a contribuição para a infância via megapromoção, os cuidados com a saúde por meio de remédios variados etc.

Fazem isso com cultura e arte. Tiram do ar todo tipo de manifestação de qualidade, entupindo o público de sertanojos e outros quetais. Nos intervalos comerciais, uma bossa-nova, um jazz, um trecho de sonata. Vendem caro a qualidade, ministrada em conta-gostas. “Em que espelho ficou perdida a minha face?”, perguntou um dia a poeta Cecília Meirelles.

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