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20 de fevereiro de 2007
NAS PISTAS DO BRASIL SOBERANO
As minorias que pulam o carnaval formam multidões, já que somos um país de 180 milhões de pessoas. Mas são minorias. O resto (a maioria, pelo menos nas grandes cidades) fica em casa, assistindo à representação do carnaval, dominada totalmente pela mídia. Há exceções, felizmente: no Interior e Litoral, nas pequenas cidades, a população ainda está à vontade para fazer o que gosta. É isso que fotógrafos como Hélcio Toth capturam (na imagem de hoje: Largo do Rosário em São Luis de Piratininga) e também os fotógrafos do carnaval de rua no Rio, como divulga o Globo Online.
Mas a descrição compulsiva do desfile no Sambódromo não permite que escutemos a bateria ou que possamos ver o que realmente acontece com as escolas. Tudo tem interferência, tanto na cabine de quem transmite quanto nos links no miolo do evento. Apresentadores, comentaristas e repórteres oferecem um pacote completo de representações dominadas pelo discurso intensivo da transmissão. Chamam isso de informação. Não é. É puro domínio da representação.
É para transmitir o recado ditador: o que importa é esse domínio e não o evento, que está a reboque. O próprio desfile é uma representação, mas essa não chega ao espectador. O que chega é (desculpe a palavra redundante) a representação da representação, o programa de TV onde está inserido o desfile. Se ficássemos apenas no desfile, no que ele significa, podemos dizer que é a casca de um modelo implantado nos anos 30, quando o Brasil soberano decidiu que numa avenida do Rio estariam representadas as várias manifestações da nacionalidade. Isso evoluiu para uma caricatura, uma contrafação, denunciada principalmente pelo vazio do samba enredo.
Enquanto a TV mata o carnaval, o teatro o resgata. É o que parece ser a peça “Sassaricando – e o Rio inventou a marchinha”, de Sergio Cabral e Rosa Maria Araújo, que tem feito grande sucesso. Cem marchinhas, selecionadas de 400, contam a história do Rio. Por que faz sucesso? Porque o Brasil soberano resiste no coração e mente das pessoas. Vi isso aqui na esquina de casa: uma dúzia de sambistas resgataram clássicos da música brasileira acompanhados pela vizinhança. Nada de pompa, luxo ou planejamento. Saiu tudo no suor, como se diz.
Dominar a representação faz parte do projeto da ditadura, que desinventou o Brasil para entregá-lo à pirataria internacional. O país não pode ter preservadas e em pleno desenvolvimento a própria cultura e identidade. Isso pega muito mal para quem carrega pastas de dólares por aí ou aceita os juros escorchantes da dívida externa, além de atrair dólar adoidado oferecendo farta remuneração para os sacanas que “investem”.
Especialistas contam que o juro alto desvaloriza o dólar e aumenta a dívida pública. Diminuir o juro seria a solução mas isso nem pensar. O importante é manter o país sob o tacão, sem, chances de revidar, de encontrar uma saída. É manipular o desespero oferecendo falsas soluções como os últimos governos e continuar intensificando a espiral de violência e miséria. Até quando? perguntam as manchetes quando um crime hediondo ocupa a atenção de todos. Até quando houver ditadura. Hoje quem sassarica é a bandidagem de todos os coturnos.
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