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24 de novembro de 2006
O IMPÉRIO DA MOTOSERRA
Como não tenho dinheiro para comprar jornal e acho que papel demais em casa é transtorno, me abstenho de investir nessa área, com algumas exceções. Quando sobra um troco, compra a Folha de São Paulo, já que aos jornais catarinas eu tenho acesso no emprego. A fonte é mesmo a Internet. Amigo meu me envia reportagem do Valor que diz o seguinte: "Em franca campanha pela reeleição à Presidência da Câmara, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) surpreendeu ontem ruralistas e aliados ao defender o plantio de soja e a criação de gado em áreas da Amazônia. Porque não podemos ter pecuária na Amazônia? Porque não a soja? Não estou convencido disso, disse. Não via, quando jovem, a ocupação do cerrado como uma tragédia, mas como um avanço. O produtor [que planta na Amazônia] não pode ser tratado como um criminoso".
MOTIVOS - Respondi ao amigo que esses são os nossos comunistas. Cabem direitinho no que a direita sempre disse deles: vendilhões da Pátria. Cumpriram a escrita direitinho. Jamais foram a favor do Brasil. Ajudaram a destruir o país. Deram todos os álibis (1935, com a Intentona, 1963, com a radicalização sindicalista e 1969 com a guerrilha) para o fechamento ditadorial que acabou com a democracia.Sem esquecer que o crime organizado, as quadrilhas das favelas a partir dos anos 70, nasceu na Ilha Grande, por inspiração dos comunistas presos. Lembro sempre George Orwell em Lutando na Espanha, que se referia ao representante comunista stalinista como uma pessoa "paga para mentir". Graças aos comunistas, Franco venceu. Stalin deu força e acabou com a república, junto com o fascismo franquista. É por isso que eles tem horror a Getúlio e a Brizola, que são de outra estirpe, a do Brasil Soberano, que conseguiu nos levantar por mais de 30 anos (por concidencia, todos nossos gênios são da era Vargas, pode fazer o balanço) até que finalmente a nação sucumbiu com o golpe de 64. O comunismo brasileiro é a burrice estratégica de Prestes, a porralouquice de Mariguella, e essa figura que é o Aldo Rebelo, o mais confiável step-president que a direita poderia sonhar.
CINISMO - Claro que o cinismo dirá que Getúlio e Brizola eram pecuaristas, então estariam a favor do gado na Amazônia. Replico com Darcy Ribeiro, que tinha horror a essa política que acaba com os ecossistemas brasileiros e que serve apenas para exportarmos proteína, enquanto o povo literalmente pasta capim seco. A argumentação de Aldo Rebelo é assim: "Os brasileiros sabem que é necessário preservar a Amazônia. Mas os critérios de preservação devem atender aos nossos interesses. Não podemos aceitar imposições e ingerências estrangeiras", afirmou. "Onde estão as florestas e as populações nativas dos Estados Unidos e da Europa?" Preservar então é destruir a mata. Plantar soja e criar gado é preservar? Se os gringos destruíram a mata e nós não, viva o Brasil, que soube se preservar. Ainda dispomos da mata, porque o Imperador proibia até navegação de cabotagem no Amazonas. Se fosse como um dos atuais estadistas, teríamos um enorme Saara e da mata apenas lembranças.
CELULOSE - Mas tem coisa pior ainda, mais ao sul. Outro amigo (se me derem licença de dizer quem são, direi) me envia pensata de um ex-editor de economia sobre o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul, em que as fábricas de celulose querem implantar a fedentina braba das suas indústrias poluidoras, sob aplausos da mídia comprada. Diz esse outro amigo que "a Aracruz, a Votorantin e agora a finlandesa Stora Enso estão derramando reais e euros em forma de publicidade e bocas-livres (um grupo de repórteres e editores gaúchos está passando uma temporada na Finlândia) na mídia gaúcha para fazer a cabeça de empresários da comunicação, jornalistas e - por conseqüência, da opinião pública do RS".
ATIVOS - Na Finlândia, diz o ex-editor, "os plantios são feitos em pequenas propriedades, embora o corte (e talvez o plantio) seja mecanizado, provavelmente em sistema de consórcio com a empresa. Aqui, implanta-se, sob os aplausos quase gerais, um sistema monocultural em grandes extensões (centenas de milhares de hectares), que empobrece o solo, impede a proliferação de várias espécies nativas florestais e animais, além de concentrar a renda. Na Finlândia, como se vê, é valorizado o pequeno produtor, dando-lhe condições de ser competitivo, ou até subsidiando-o. Aqui, sufoca-se o pequeno, comprando-lhe as terras e tornando-o mero empregado ou simples pária urbano, sob as fanfarras de certo tipo de jornalismo. O que há é que o capital, ante a grave crise mundial que se desenha com a derrocada do dólar, procura ancorar-se em ativos reais, no caso imóveis rurais, deslocando para a periferia ou a marginalidade os ex-donos da terra. Com nossos incentivos, isto é, nosso dinheiro".
RETORNO - Imagem de hoje: menino no Pará com ave de rapina, de Marcelo Min. A foto faz parte de prometida reportagem feita por ele e Fabio Murakawa, que será publicada em dezembro. Min e Gim Tones são a maior dupla de repórteres do Brasil.
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