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29 de outubro de 2006

DEMOCRACIA DE CONSUMO





Se houvesse democracia, não seria preciso fazer tanto marketing sobre sua existência ou benefícios. Seria real, de baixo para cima, e não essa outorga do Estamento, os donos do poder. Democracia é um produto publicitário cacifado pela ditadura. Custa uma nota, todo o dinheiro arrancado do nosso suor. Como ninguém rasga dinheiro, todos são obrigados a votar, pois imagina se ninguém aparece depois de um esquema desses que o noticiário gosta tanto, em que o eleitor pega um burro, depois um barco, anda mais 80 quilômetros a pé, sobe na árvore, dá três pulinhos para o lado oeste, só para cumprir com seu dever cívico.

POLTRONA - O recado é claro: você está aí na poltrona, na mordomia, precisa apenas dar alguns passos ou pegar um só ônibus para teclar a urna eletrônica, caixa preta fechada que ninguém sabe o que pode fazer. Veja esse cidadão ou cidadoa que cruza a floresta para apresentar seus pés descalços em frente às câmaras. Isso sim é democracia. A selva vota quase cem por cento no governo e ninguém desconfia, todos acham que isso sim é competência democrática. Acabou a fase do famoso voto dos grotões, tão querido pelos jornalistas áulicos da pseudo-esquerda. Agora o grotão é in. Nos grandes centros urbanos, o candidato do governo leva uma surra e a desculpa é que a imprensa está contra os analfabetos. Haja.

CADEIA - Todos vão para a urna conscientes de que o governo vai ganhar de lavada, pois assim definem as pesquisas. A diferença de pontos é impressionante. O candidato oficial leva uma tunda no primeiro debate e de repente o adversário rola ibope abaixo. Isso é considerado normal. Nas denúncias de corrupção, a cadeia de meliantes segue o aparelhamento de estado, em que todos são do partido do poder. Sim, sim, existem as denúncias de corrupção do lado oposto, verifique-se tudo. Mas por existir corrupção no adversário não quer dizer que o governo deva ser inocentado a priori. Tudo não passaria de perseguição, já que há ressentimento contra a ascensão social da miséria, verificada pela propaganda oficial. Crescemos só mais do que o Haiti e estamos no lugar 75 em educação e existem melhorias? Então, tá.

QUADRILHA - Você pode optar entre uma quadrilha ou outra. A quadrilha que vai beneficiá-lo mais ou menos. Você vota obrigado, de cabresto (voto útil), assiste à propaganda sobre a democracia de consumo, vê na sua vida diária como o analfabetismo grassa em todas as profissões, se assusta com o que o crime organizado é capaz de fazer, nota a quantidade de favelas que avançam sobre as outras áreas urbanas, abre o jornal todo o dia e tem essa campanha difamatória contra nossos políticos e chega à conclusão que estamos numa verdadeira democracia. Claro, democracia é assim mesmo, não vê? O que você quer? A volta da ditadura? Pois se você discordar da democracia de consumo, então você está a favor da ditadura, dizem os ditadores. Tudo melhora, as famílias ganham esmolas de cem reais para viver o mês inteiro (mas é claro que dá!) e se isso acabar será o caos. Tem que vencer, pois assim dizem as pesquisas.

HORROR - E se perder? Deus nos livre, assim ficaremos, nós o povo, sem nosso paizão, tão convincente quando mente sem parar todos os dias e a toda hora. Ficaremos à mercê dessa súcia que está há 500 anos sugando o país. Esses horrorosos que não vêem que nunca antes neste país houve um país, só agora temos um país neste país. Aquiqui ou lalá(drão), sem medo de ser perdiz. Digo, Paris.

RETORNO - 1. É uma pena que esta bela data, 29 de outubro, em que completo 58 anos, seja dedicada ao voto obrigatório e útil. Mas hoje é dia do livro também. Viva o livro! 2. Imagem de hoje: cena do filme Lavoura Arcaica.

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