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13 de janeiro de 2006
QUASE CULTURAL
A expressão é de Gisele Bünchen, hoje na Folha. Ela diz que o problema da corrupção no Brasil é quase cultural. Achei o conceito interessante. Talvez tenhamos uma quase cultura, com quase escritores e quase artistas. Temos corruptos a um passo da consolidação institucional do imaginário do País. O que é a literatura que se faz na Internet? Quase cultura, pois não é assimilada pelos ethos nacional, fica à margem. E o que dizer dos romancistas que lançam seus livros anônimos, dos poetas que passam oitenta anos no ostracismo, dos novos talentos que desistem diante do paredão de indiferença? Só o que temos de completo são as celebridades.
PERFIL - Temos grandes celebridades, como Gisele, Ivete Sangalo, Leonardo, os irmãos Camargo. Mas são personalidades que fazem parte da quase cultura, pois apesar de dominar todos os espaços da programação e da publicidade, não chegam a definir o perfil do país, são algo passageiro. O Brasil tem muita coisa, como disse Gil num concerto internacional. Acrescento: tem quase muita coisa. Temos um quase suicídio no Haiti, uma quase democracia que no fundo é ditadura, quase políticos que negociam e barganham tudo, só não abrem mão de fazer ao mal ao país. Talvez não façam todo esse mal. Quase nos prejudicam. Nós quase vivemos, na nossa quase vida e nossas quase mortes.
DIREITA - Cruzo a ilha de Santa Catarina na maré alta do verão e vou para o fundo do território, no sul onde tudo acaba. Na viagem paro em todos os terminais e faço baldeação. Os banhistas com suas roupas, mochilas, pranchas de surf, lotam os ônibus. Um grupo discute política. Repetem todos os lugares comuns do quase país. Possuem certezas sobre tudo e retroalimentam o pensamento de direita, achando que produzem pensamento independente. Tenho medo que um candidato explícito de extrema direita se candidate e vença as próximas eleições. Basta uma só pessoa ter essa coragem e um quase partido apoiar. Terá votação em massa. Voto nulo, disse um passageiro, convicto. Quem vai tirar-lhe a razão? Agora ninguém fala num candidato da direita. Estão todos ocupados com serras, alckmins, garotinhos e lulas. Acham que a direita é apenas Maluf, que está fora. Mas alguém que defenda a pena de morte (em massa), que denuncie os esquerdistas que entregam o país, que fale em Brasil grande e pregue o moralismo rastaqüera e coisas que tais poderá arrasar nas urnas. Se houver esse perigo real, se acontecer essa candidatura, aí todos acordarão. Mas será tarde demais. Brrrrrr.
ACORDOS - Naturalmente, dirão que não há esse perigo. A pirataria internacional, graças a Lula, descobriu que pode confiar em candidatos que se dizem de esquerda ou socialistas. O exemplo das eleições do Chile provam isso. Não precisam mais da direita, já que a esquerda dá conta do recado. O presidente do Uruguai, que ameaça fazer acordos bilaterais com os americanos, detonando assim o Mercosul e abrindo a guarda para a Alca, é outro exemplo. O problema é o que chamam de populismo, Evo Morales ou o Chavez. Mas esses estão enquadrados na demonização ideológica e cometem erros que os erradicarão do poder. O fato é que a direita com punhos de renda tomou de assalto os países pobres do continente, com exceção do Kirchner, que me parece um estadista diferente. Kirchner é fruto do panelaço, da identidade nacional da criatura Argentina. Se pisar na bola, dança. É o que precisamos no Brasil. Alguém que atenda as reivindicações populares sem cair nos extremos da desgraça. Mas parece que Quércia (brrr) está ressuscitando. Que poderá haver mais deputados no Congresso. Que o Tesouro Nacional continuará tungado. Que a operação tapa buracos , apesar de todas as criticas, vai eleger o novo governador do Amazonas. Quem entende de política?
RETORNO - A foto é de Anderson Petroceli,fotógrafo completo, sobre os encantos visuais do rio Uruguai.
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