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10 de janeiro de 2006
PAULO AUTRAN NA TV
A entrevista ao Canal Livre, domingo à noite na Band, de Paulo Autran, foi um espetáculo de lucidez e talento. Ele falou coisas decisivas de tão evidentes. Uma, a de que sempre repetiremos os erros, pois nascemos zerados a cada geração. Outra, a de que a televisão aposta na burrice e se dá mal, pois toda vez que há um programa de qualidade, este faz sucesso. Citou o seu clássico Quadrante, em que recitava crônicas de um time completo, de Drummond a Rubem Braga. Falou também do abandono do teatro pelo poder público, dizendo que Gil, apesar de muito talentoso e eficiente em ganhar dinheiro com seus shows, jamais foi ao teatro. Disse também que seus espetáculos têm tido casa lotada, que lançou vários discos com poemas brasileiros de primeira grandeza e revisitou o poema Meus Oito Anos, de Casemiro de Abreu, como se o autor tivesse escrito aqueles versos hoje. Trazer Autran só para fazer novela é de um mau gosto sem fim. Deveriam deixá-lo fazer o que sabe e gosta, permitindo que expresse suas opiniões, sempre contundentes. São raros momentos como este na mídia. No embalo, destaco o artigo de Luís Nassif sobre JK, publicado na Folha.
MAIS JK - Nassif disse, do seu jeito, o que foi dito aqui: que JK é obra da era Vargas e o Plano de Metas já existia no governo de Getúlio dos anos 50. Entregou também que JK caiu nas graças de David Rockfeller, o inventor do neo-colonialismo e deu alguns exemplos da falta de lealdade política do presidente bossa nova (como a de demitir um enfartado). Nassif, mineiro, deve ter ficado com vergonha com a overdose juscelinista que está tomando conta da mídia e resolveu colocar esses pontos. Não nega o carisma de JK nem sua capacidade empreendedora. Mas é bom ficar atento ao que Nassif diz, pois corremos o risco de criar um mito que pode ser decisivo nas próximas eleições, desde que algum candidato resolva assumir a persona que está sendo retratada na série da Globo. Como político, JK, segundo Nassif, foi invenção de Benedito Valadares, então interventor do Estado Novo em Minas Gerais. Benedito foi um tertius escolhido por Getúlio, pois a elite política do estado estava dividida. Sua escolha foi um golpe fatal nas pretensões de Virgilio de Melo Franco, revolucionário de 30, e autor do célebre Outubro, 1930, livro obrigatório para quem quiser conhecer os bastidores da conspiração.
DIREITA - O pensamento de direita continua vivo e nada melhor para crescer e prosperar do que a atual crise, em que um governo eleito tudo fez para desmoralizar as lutas populares. Não há debate real, apenas bate-boca de posições ideológicas graníticas. Ter o espírito livre nessa altura do campeonato é uma receita infalível para o mal entendido. Costumo avançar o sinal, mas decidi não ficar mais no cabresto de cobranças. Procuro colocar aqui o que eu sinto e acho, sem atentar para os perigos dos desvios de direita ou esquerda. Muitas vezes me arrependo da contundência com que escrevo, mas pelo menos tenho procurado eliminar o fosso entre o que realmente penso e o que realmente temo. O grande perigo é que o pensamento de direita medra na sombra, sem que a imprensa tome conhecimento disso. É preciso trazer o monstro para a sala antes que ele comece a fazer estrago derrubando primeiro a cerca e depois arrombando a porta. Cuidado: o atual governo está sendo acusado de revanchista e tomado como exemplo de que a esquerda pode fazer com o Brasil. O governo não é de esquerda, segundo palavras do próprio presidente. Mas a oposição que realmente significa um perigo é de direita. Travestida de nacionalismo, capitalismo ou sei lá o quê, poderá surpreender nas urnas. E aí, meu irmão, escolha a sua embaixada. Por isso insisto: soberania sem xenofobia, espírito livre sem armadilhas pseudo-ideológicas, religiosidade sem fundamentalismo, transparência de pensamento, coragem de dizer e democracia de verdade, fora das imposições internas e externas.
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