Diferenciado é uma das palavras da moda. Significa ser sempre o Mesmo. Não diga que você é diferente, senão caem em cima com a mesma gana de quero-quero em gafanhoto. Diga que você inicializou um processo diferenciado. Assim você poderá ser incluído nos jargões que o transformam nessa aristocracia que se diferencia da massa, identificada com o Homer Simpson pelo Bill Bonner, segundo artigo escandaloso publicado na Cartacapital desta semana. É por isso que ele trata os telespectadores como idiotas, porque se acha diferenciado, acima dessa pobreza infame. O pior é que o texto, reproduzido no Comunique-se, provocou comentários reveladores: teve jornalista que defendeu Bonner, achando que esse sujeito asqueroso, o brasileiro, é assim mesmo, vive no sofá comendo rosquinha e não entende nada. O FBI tem certeza que os brasileiros não formarão uma máfia nos Estados Unidos, já que não se diferenciam pela solidariedade. È assim mesmo: somos nossos piores inimigos. Onde tem uma cidadania estrangeira dando sopa? É para lá que os diferenciados vão.
BALANÇO - Um out-door aqui de Floripa assinado por uma tal de Gang diz textualmente: Fuck you, 2005. A pobreza de espírito aliada à apelação pura e simples produzem essas peças da criatividade diferenciada. Como você pode excluir o ano que já faz parte de nós? É como cortar um braço. Não entendo este período que chega ao fim como uma aula de cidadania ou política, como querem os mesmos colunistas e comentaristas de sempre. Puxa, que lição, as instituições estão funcionando, sairemos dessa melhores ainda. Besteira. Já estamos a braços com soluções diferenciadas, como o novo partido do Bispo Macedo, a candidatura Garotinho, esse trabalhador incansável que é o Geraldo Alckmin querendo o trono, mais a maré JK que vai engolfar a mídia para inventar alguma terceira ou quarta via de olhinhos semicerrados carismáticos, e assim por diante. 2005 foi bom porque aconteceu, só por isso. Porque escrevemos como nunca, porque exercemos a liberdade de expressão, porque nasceu minha neta, porque consegui participar de um projeto editorial de primeira linha, porque fui patrono da feira do livro de Uruguaiana, porque recebi uma carta de Cícero Galeno Lopes e sua esposa Márcia colocando minha crônica Quando a pátria fazia sentido nas alturas, porque o Brasil continua, apesar de tudo, porque o Marco Celso Viola está agitando em Portinho, porque o Taba está filmando, porque Urariano Mota está mandando ver com suas crônicas/reportagens culturais no La Insignia, porque li e resenhei Shosha, de Isaac B. Singer, porque Miguel Ramos está atuando e porque descobri o quanto Geir Campos é importante, com versos como " o que nos cabe é ter os olhos enxutos e a intenção de madrugar" . Por que mandar 2005 às favas? Porque perdemos a ilusão nos políticos? Porque roubaram pesadamente, se diferenciando ou não do roubo grosso de sempre? Viva o ano que finda. Nós somos o Tempo.
FESTA - A premiação festiva do Campeonato brasileiro, coberta pela mesmice da Globo, é deboche puro. Como podem festejar um campeonato que foi flagrado em inúmeras irregularidades e que acabou em pizza? Mas o evento já estava marcado. O que lamento é que nada pode contra a força da Mesmice, que inventa até falsas diferenças para continuar reinando. Não existe oposição no Brasil, o monopólio e a ditadura não deixam. Em 2006, votaremos na mudança, como sempre, para que candidatos diferenciados nos imponham o tradicional arrocho. Quem encarnar possibilidade real de transformação, será eliminado.
RETORNO - Por ser diferenciado, o UOL quica de volta tudo que é e-mail que envio. Tento desde ontem enviar mensagem para o Urariano Mota, tanto do meu e-mail pessoal quanto o profissional, e não consigo. Para o Moacir Japiassu, a mesma coisa. Às vezes, o monopólio UOL se distrai e consigo cravar uma tentativa.
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