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5 de dezembro de 2005

O CAMPEÃO IMORAL




A chamada Máfia do Apito é uma máfia menor, por isso foi punida. Ela corrompia por dez mil reais e fazia parte de um esquema clandestino de jogo pela internet, o que é totalmente marginal ao que domina de verdade o futebol brasileiro, em que um juiz, nas fuças de todo mundo, tunga um time que poderia chegar ao título, e ninguém relcama, todos acham normal. Puxa, errei, agora vou me aposentar. Uma pena eu não ter dado o pênalti e ainda expulsar o jogador. Fiz algo parecido em 1995, também numa final, mas no problem. Enquanto isso, milhões de tordcedores mostram-se fiéis, absolutamente vassalos, ao esquema que corrompeu o Cortinthians. O clube se entregou ao MSI (que segundo Ministério Pulico paulista serve para grossa lavagem de dinheiro, conforme noticiou a imprensa de São Paulo neste domingo) e ao ídolo argentino. Tevez veio aqui ocupar o espaço vazio deixado por centenas de craques que foram entregues para o estrangeiro. Tudo é dado de bandeja num país em que a primeira dama consegue rapidamente a cidadania italiana (para escândalo da imprensa italiana), ou seja, jurou a bandeira de outro país, com apoio do marido presidente, torcedor corintiano que representa a hecatombe que nos engolfa em meio às mentiras das estatísticas. Como pode o PIB diminuir junto com a pobreza? O que há é o achatamento: todo mundo vira proleta, enquanto o primeiro casal ascende à nobreza e a massa corrompida comemora a imoralidade de um título tungado.

ROMÁRIO - Quando a Argentina comprou o Peru por 50 milhões de dólares na Copa de 78, como comprovam depoimentos divulgados muito tempo depois, o Brasil, que saiu invicto da parada, mas amargando um terceiro lugar, virou o campeão moral, segundo o técnico da seleção, Capitão Claudio Coutinho. Nunca fomos. Nossa seleção era um time que tinha deixado um craque como Falcão no banco e Falcão precisou virar o Rei de Roma para ser convocado na Copa seguinte. Tínhamos esse técnico vindo do meio militar, que introduziu a figura do falso professor, que tudo sabe e que não precisa de jogador, pois o que pega são as elocubrações matemáticas, não o talento. Foi uma péssima influência, inclusive para Parreira, que só deixou sua arrogância retranqueira e anti-craque de lado quando precisou desesperadamente de Romário, que com quase 40 anos sagrou-se artilheiro desse campeonato sacana. A atual ditadura civil consagrou a figura do técnico/professor, seleto grupo que faz um rodizio nos campeonatos, navegando na instabilidade provocada pela falta de soberania (vendem tudo para todos os países) a miséria da população (que vai para o estádio explodir de raiva) e os estádios sucateados (favelões que representam a falta de políticas públicas no país).

ARRIVISMO - Na crônica deste domingo na Folha, Ferreira Gullar lembra o caráter guerreiro do futebol e propõe que se use a tecnologia para arbitrar o jogo. Não usam a tecnologia porque assim não poderão mais manipular resultados. E manipulam de maneira orgânica e sofisticada: deixam o campeonato rolar e só intervêm nos momentos decisivos. A impropibdade das gestões deságuam na violência dentro e fora dos estádios, além da grande embrulho que é a transmissão dos jogos. Por que o Cleber Machado narra todo o campeonato, como um boi de canga, e no momento de gritar campeão é substituído sorrateiramente pelo Galvão Bueno? O arrivismo (sempre querendo chegar em primeiro) de Galvão Bueno é nauseante. Seu modo autista de ser, fazendo contas sem fim enquanto o jogo se desenvolve, é uma obsessão matemática no jogo que é pura magia. O narrador, com ele, torna-se o centro do espetáculo. Fica furioso com o juiz, que não dá início à partida no segundo em que ele, Galvão, acha que deve, e promove esse entorno de alienação de que se servem as máfias para reinar soberanas nessa que é a grande paixão brasileira.

PENSATAS - O futebol tem servido de matéria prima para inúmeras pensatas. Tudo bem: o futebol deve ser tratado à altura da sua importância pelo meio acadêmico e a mídia. Mas não tentem tapar o sol com a peneira. É preciso dizer com todas as letras, senão os textos viram exercícios sobre uma atividade que está matando gente, já que sobram torcedores assassinados em dia de jogo.

RETORNO - O programa especial do Chico Buarque, totalmente dedicado a Tom Jobim, que foi ao ar neste domingo na Band, funciona como uma denúncia. Para onde foi toda essa música maravilhosa, desses caras que fizeram nossa cabeça e nosso coração por toda a vida? Está confinada, pode ser ouvida, mas não está explícita na mídia o tempo todo, como deveria ser. Chico, esse poeta e compositor soberano, lembra que a bossa nova é atual, moderna até hoje e que ela acabou migrando para Nova York. O melhor da América aproveita até o osso o que foi criado aqui, enquanto ficamos manietados ao berreiro pseudo sertanejo. É uma tragédia cultural e social . Ciclicamente, quando estou prestes a entrar no desespero, coloco o cd clássico de Tom Jobim, todo instrumentado, que ele lançou nos Estados Unidos na alvorada da bossa. Volto então ao normal: ao país que me ilumina, ao sonho que nos mantém vivos. E lembro, em cada nota, as palavras de Vinícius de Morais, plural de moral, como notou Tom numa entrevista.

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