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10 de dezembro de 2005
O BARULHO DO MAL
O BARULHO DO MAL
Música é a capacidade e as condições que temos de ouvir. Vamos imaginar se por alguns segundos a canalha que nos domina calasse a boca. Se os animais que levantam a parte traseira do carro para destruir os tímpanos alheios em qualquer lugar onde estejam desligassem seus equipamentos. Se todos os que se acham no direito de berrar produtos e religiões na porta da sua casa por meio de poderosos auto-falantes se recolhessem. Se o dolby stereo dos cinemas de luxo parassem de reproduzir explosões e tiroteios. Se os conferencistas de auto-ajuda ocupassem o lugar de platéias atentas. Se as estridentes vozes dentro dos ônibus, bares e outros lugares públicos parassem de ocupar nossas mentes. Se o baticum abandonasse a praia. Se o fascínio pelo ronco da primeira revolução industrial fosse enfim superado. Se as serralherias fechassem para sempre e o silvo das construções orientadas para a incompetência e o espírito de porco fossem para o espaço, onde o som não se propaga. O que teríamos? Música. Escutaríamos o que está soterrado nessa avalanche do Mal. E do fundo de cada pessoa emergeria a dor de ter ficado submisso todo esse tempo. Mas seria só por alguns dias. Imediatamente iríamos então produzir mais música, desta vez inspirada pelo silêncio, que é o nome verdadeiro do humanismo e da civilização.
BALA - Acontece o mesmo no debate político. O que há é barulho e a contrafação fomentada pelo poder. Muita gente acredita estar pensando livremente, quando no fundo apenas obedece aos ditames da indústria cultural e ideológica. Há uma pasmaceira geral por trás da falsa movimentação de corpos e mentes. O marketing da pressa - andar rapidinho para parecer dinâmico - domina. Toda e qualquer idéia que se contraponha de verdade ao que está estabelecido na mídia e nas instituições é desmoralizado. A ditadura civil, esse regime que é o continuismo de 1964 e que desde 1985 toma conta do Brasil, inventou uma falsa oposição para continuar reinando. Sua grande obra, além do PSDB (que foi uma defecção da oposição ao regime civil-militar 1964-85), foi o PT, a desmoralização das lutas populares. Preparem-se para 2006, o Ano da Mentira (assim como 2005 foi o Ano da Verdade, como previu o Diário da Fonte). Uma onda gigantesca de certezas vai nos engolfar com jingles, cenhos carregados e ética saindo pelo ladrão. Isso me lembra um cidadão irado que escutei esses dias na Praça 15, a da Figueira, aqui em Florioanópolis. Ele se queixava dos políticos e ao citar um, eterno em suas andanças por cargos e verbas, perguntou: não existe uma só bala perdida para encontrar esse sujeito? A radicalização da revolta popular gera um buraco negro na cidadania. Imagina-se a violência quando somos apenas cidadãos pacíficos. Estoura em brutalidade doméstica, quando deveríamos nos envolver na briga política. Impera o suicídio em massa nas ruas e estradas, pois todos querem escapar desse pesadelo chamado Brasil.
ALIADOS - A publicidade e o jornalismo da ditadura civil estão recebendo duros golpes graças à Internet, a mídia das mídias. Contam com aliados, os que se acham de vanguarda e vivem querendo desmoralizar o pensamento real de oposição. Mas já estão colocando as barbas de molho. Os esquemas são expostos nos sites de opinião e informação e as figurinhas carimbadas, os que ficaram décadas vivendo às custas da boa fé e da ignorância do público, procuram saídas. Uma delas é exibir um falso radicalismo, como se tivessem sido opositores desde criancinhas, quando sabemos que comeram na mão das granas ocultas todo esse tempo. Com a ajuda deles, a ditadura civil cumpriu o seu projeto de destruir o país, entregá-lo para a pirataria internacional, sugar o povo até a última gota e mentir que estamos crescendo, que nunca houve um governo como este, que todos são éticos e perfeitos, que as denúncias são uma farsa pois não há provas, apesar de sobrarem provas, e, o que é pior, devemos voltar ao entreguismo fhcista.
PROMESSAS - 2006, o Ano da Mentira, promete. Você escutará o seguinte: Sabemos que os cidadãos estão cansados de promessas, mas nosso partido comportou-se à altura dos acontecimentos e por isso vem com candidatura própria pedir o seu voto, a sua confiança. Vote em nós, vote na mudança. Muda Brasil, para tudo continuar o mesmo. Será o auge do Barulho do Mal, o que nos cerca com sua gana de acabar conosco, de nos enterrar em todos os cantos. Quando vemos pais chorando sobre os corpos assassinados dos seus filhos, quando vemos os traficantes sendo incensados como grande coisa em todas as imagens e programas (meu Deus, quanta adrenalina!), quando assistimos a grande putaria geral (dê até os 21 anos para fazer seu pé de meia, e depois case com um mala, como exibiu blogueira de sucesso) e a sacanagem dos politicamente corretos com suas ongs maravilhosas, sabemos: estamos fritos. O que nos resta é rezar. E não permitir que nos seduzam com sua montanha de pequenos e grandes assassinatos.
RETORNO - Lembro o que publiquei aqui no Diário da Fonte em janeiro deste ano: "Está inaugurado oficialmente o Ano da Verdade. Em 2005, faremos oposição frontal à mediocridade e à baixaria instaladas em todos os poderes.Nosso alvo principal é a presença maciça de nulidades nos meios de comunicação de massa e nos postos chave dos governos.O que significa o Ano da Verdade? Será o tempo em que todas as máscaras cairão e estaremos frente a frente com nossa precariedade. O desafio será encontrar a divindade nas ruínas da nossa vida. Celebrarmos o encontro com as palavras nuas, as frases cortantes, os versos mais fortes. Será um pesadelo, me dizem. Não importa. Ficamos tempo demais em silencio. Adiamos demais o destino. Teremos que falar aquilo que realmente conta e não o horror que é a percepção que temos dos outros. Não vale dizer falsas verdades(...)A verdade é o brasileiro sério apostando na soberania da própria vida. Não significa ser chato, nem politicamente correto, nem sincero em demasia. Falo na palavra com poder de cura, a palavra consciente da morte da criatura, a palavra que você não quis escutar e que gritava dentro de ti. O Ano da Verdade será um poema e depois virá mais tempo de mentiras. Mas pelo menos por esse período vamos ver como é que fica: saber o que temos a doar para esse tempo que se destrói com falas impregnadas de veneno".
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